Pré-temporadas

Assim como no futebol, outras atividades profissionais deviam fazer uma pré-temporada de preparação. Motoristas de caminhão deviam passar trinta dias passeando de automóvel com a família pelas estadas do Dnit afora; médicos deveriam passar alguns dias internados numa enfermaria de hospital público, sem fazer absolutamente nada; a OAB levaria os advogados a uma temporada de serviços comunitários nos escaninhos da Justiça; políticos fariam a pré-temporada num reformatório penal agrícola; e nós cronistas ganharíamos a imensa honra de conviver algumas semanas com os nossos promissores personagens.

No futebol, todos estão cansados de saber que pré-temporada se trata da fase preparatória das equipes. No Brasil, a pré-temporada é feita em janeiro. Entretanto, times pequenos costumam dar início a essa etapa de condicionamento físico e técnico ainda no ano anterior. Já nos países europeus e na Argentina, a pré-temporada começa na metade do ano, em julho ou agosto.

Se o jornal me desse o privilégio de escolher um local para a minha pré-temporada de trabalhos mais ou menos forçados, optaria por passar alguns dias ouvindo histórias no bar do Clube Náutico de Antonina. São histórias de pescadores, obviamente, porém contadas com veracidade por alguns dos navegantes de maior credibilidade na Baía de Paranaguá. Entre eles o arquiteto José Sanchotene, um dos ícones da arquitetutura paranaense.

Certa tarde de domingo, quando todas aquelas caras velhas aprumavam suas caravelas uma grande mesa da sede náutica, Sanchotene encerrou sob aplausos uma das rotineiras desavenças entre velejadores e lancheiros:

– A diferença entre uma lancha e um veleiro é etílica: na lancha você chega mais rápido ao bar; no veleiro você já chega bêbado.

Entrevero entre velejadores e lancheiros é alguma coisa parecida com a rivalidade entre atleticanos e coxas brancas. Não se pode dizer quem é quem nessa comparação, mas dadas as atuais circunstâncias é notório que o Atlético Paranaense lembra um veleirinho atolado nas cercanias da Ilha das Peças, na maré baixa e com uma tempestade se formando lá para os lados da Ilha do Mel.

E o que será preciso para tirar o Atlético desse atoleiro?

O rubro-negro precisa fazer uma pré-temporada à altura da atual diretoria. Para purgar nossos pecados, tudo o que estamos precisando é de uma longa e desintoxicante pré-temporada na segunda divisão.