Também conhecido como o ?Monge do Bacacheri?, o cartunista Solda escreve justamente preocupado com a paisagem arquitetônica do bairro: ?Estão querendo construir um portal aqui no Bacacheri. E ele inclui uma vaca, em virtude de uma lenda que corre na região, dos tempos de antanho, de que uma família francesa perdeu a vaca ?Chérie?. E um francês, desesperado, saiu à procura do animal, gritando ?Vaca Chérie! Vaca Chérie!?. Bah! Já não basta a Cow Parade que deu o maior bode. E essa história não passa de folclore. Até agora nenhuma vaca foi consultada?.

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A lenda do Bacacheri tem certa veracidade, com um pequeno reparo. Não devia ser francês o desesperado proprietário da vaca ?Chérie?, mas sim argelino. Como está escrito na história oficial do bairro que nos oferece um dos melhores petiscos da cidade – o buchinho à milanesa do Bar do Edmundo -, as origens do Bacacheri se confundem com a criação, naquela região do aeroporto, da Colônia Argelina de imigrantes, em 1869. Além de franceses originários da Argélia, ali deitaram tralhas e ergueram barracas grupos de alemães, suíços, suecos, ingleses e, bem depois, os italianos. Majoritariamente comerciantes de polenta em Santa Felicidade, a presença destes italianos no Bacacheri é um mistério. No entanto, pode explicar de onde veio a idéia do velho Edmundo de fritar bucho com gema de ovos e farinha. Bucho à ?milanese?, ?scusami?, só pode ser coisa de algum anarquista de Milão.

Quanto à proposta de construir no Bacacheri um portal na forma de uma vaca, a idéia não é de toda má. Tem sua graça. Ficaria com mais graça, por exemplo, que o portal de Santa Felicidade. O portal italiano seria bem mais expressivo se, no lugar daquelas linhas arquitetônicas próprias do bairro, fosse erguida uma galinha gigante, com os ônibus turísticos passando entre coxas e sobre-coxas da penosa.

No Bacacheri um portal na forma de vaca, em Santa Felicidade uma galinha com seus ovos de ouro. E assim por toda Curitiba, cada bairro com um animal devidamente representado em portais. No bairro do Bigorrilho, que, entre outras versões, teria este nome em virtude de ter morado ali uma eslava de nome Bigorela, o portal seria representado por um ganso. Um ganso guardião do Bigorrilho, porque ganso é o cachorro de polaco.

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Bairro crescido às margens da Estrada do Mato Grosso e caminho das tropas de erva-mate, no Batel teríamos o portal de uma mula. No Alto da Glória, uma potranca. Nas alturas onde despontam o glorioso Coritiba F.C. e o majestoso Estádio Major Antônio Couto Pereira, o nome do bairro vem de 1843. Naqueles antanhos, em ata da Câmara de Vereadores, Vicente Manoel Coelho solicitava local para montar um potreiro no local denominado ?Glória?. Assim sendo, presume-se que onde hoje é a sede do Coritiba, situava-se um potreiro. Desconsiderando que o presidente alviverde Giovani Gionedes costumava tratar seus atletas como pangarés, o portal do Alto da Glória teria a forma de uma potranca: a potranca coxa-branca.

Seria uma barata leprosa com caspa na sobrancelha quem localizasse o monumento cavalar nas imediações do castelo do Vampiro de Curitiba. Que o poupe, ó Curitiba. Sob o rabo de uma potranca, Dalton Trevisan morreria como uma corruíra nanica.

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