Para explicar uma grande parte da crise europeia, vamos imaginar a seguinte cena: um português, um grego e um espanhol deitados numa praia pedindo a um suado e gordo garçom alemão para trazer mais uma rodada de caipirinha, cerveja, lagosta e bobó de camarão. “E bota na conta de Berlim!” – ordena o espanhol.

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Como não existe almoço de graça, muito menos bobó de camarão, hoje se pergunta na Espanha: “O que estavam pensando quando torraram todo o dinheiro da solidariedade europeia?”.  É grande a ressaca. Depois da farra, Portugal, Grécia e Espanha foram para o fundo dos infernos da crise e agora os espanhóis começam a despertar do sonho financiado, em grande parte, com fundos europeus.

Salta aos olhos a modernização da Espanha nos últimos anos. Principalmente a infraestrutura de transportes, as ferrovias com trens de alta velocidade (AVE) e os metrôs limpos e confortáveis – como diz o ex-presidente Lula, para “babaca nenhum botar defeito”. No entanto, tudo tem seu preço. Da mesma conta onde estão muitos centros culturais hoje vazios e trens que vão a lugar nenhum, não puderam ocultar a corrupção e a negligência na hora de aproveitar a solidariedade europeia. Ou seja, a boa vontade do garçom alemão.

O Museu de Valência e a Espanha moderna.

Um dos exemplos mais clamorosos de como jogar dinheiro fora se originou na catástrofe do navio Prestige, em novembro de 2002. O desastre ecológico encheu de razão o governo espanhol, então presidido por José Maria Aznar, para projetar um porto em alto mar a dez quilômetros de La Coruña. A ideia era afastar o perigo do tráfego de combustível e liberar a cidade de um oleoduto de seis quilômetros que seguia por um rio. 

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Só esqueceram do mais importante: combinar o negócio com a Repsol, a empresa petrolífera que transladava o petróleo. Doze anos depois, a petroleira não se mexeu, em que pese o investimento de 750 milhões de euros no novo porto jogado aos tubarões. Tubarões em todos os sentidos.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva fala que só os babacas precisam de metrô e outros confortos do primeiro mundo, num certo sentido ele pode ter razão. Quem sabe o ex-presidente, com todo o seu prestígio internacional, possa ter tido acesso às despesas que Portugal, Grécia e Espanha penduraram na conta dos vizinhos milionários.

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“Metrô e trem bala no Brasil? Infelizmente, na América Latina não temos nenhuma alemão babaca para pagar a conta!” – assim Lula deve ter aconselhado Dilma Roussef, ao ser consultado sobre o assunto.