Plataforma

Como se todos os doidos trancados nos porões de Curitiba tivessem fugido do cativeiro para rasgar a fantasia no Largo da Ordem, agora se procura um local seguro para enclausurar os Garibaldis e Sacis. A Polícia Militar, que é especialista em desfiles (Sete de Setembro, Dia da Bandeira, do Soldado etc.), sugere que a folia pré-carnavalesca se mude para a esquina das Marechais. Com um cordão de isolamento em torno, como deve ser.

Já um técnico do Ippuc, que participou na década de 1970 do projeto de revitalização do setor histórico – relata o jornalista Celso Nascimento – viu o caso sob outro ângulo. “O Largo da Ordem reúne precioso patrimônio histórico da cidade, como a Igreja da Ordem e a Casa da Memória. Ali, todas as construções são tombadas e precisam ser protegidas”. Por isso, ele lança a pergunta: Por acaso a prefeitura teria dado autorização para a realização de festas carnavalescas no local?”.

Sem levar em conta que Olinda tem um patrimônio histórico muito mais antigo e um carnaval de rua dos melhores do Brasil, mas nem por isso o Alceu Valença deixa de sair no Bacalhau do Batata, presume-se que os Garibaldis e Sacis não tenham que pedir autorização de ninguém para se divertir na praça que é do povo e do “cavalo babão”. E se alguém exigir, que ponham o bloco na rua cantando a “Plataforma” de João Bosco e Aldir Blanc: “Não põe corda no meu bloco / Nem vem com teu carro-chefe / Não dá ordem ao pessoal / Não traz lema nem divisa / Que a gente não precisa / Que organizem nosso carnaval”.

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Não sou candidato a nada, meu negócio é “pintar e bordar”, mas há muito venho pregando no deserto a teoria de que, antes de exterminar com o reinado do Rei Momo em Curitiba (de não restar um único falso brilhante), que se transfira o Carnaval para Antonina. No estado em que se encontra, assim massacrado, nós curitibanos estamos correndo o risco de desmoralizar essa instituição que é o Carnaval brasileiro. Se para melhorar precisa mudar, que se mudem os tamborins e repiniques.

Por que Antonina? Porque é a capital paranaense do Carnaval. A cidade sempre recebeu um público folião de causar inveja aos carnavalescos curitibanos, que têm Antonina como uma segunda casa. Para os de serra acima, ruins da cabeça e doentes do pé, a mudança seria um bálsamo, nascendo então a primeira capital brasileira sem Carnaval, paraíso dos “folífobos” – os que têm fobia à folia.

Unidos de Paranaguá, Guaratuba, Caiobá, Matinhos, Guaraqueçaba, Cajuru, Água Verde, Portão, Boqueirão, Bacacheri, Bigorrilho e Largo da Ordem, ergam barricadas em Antonina. Nada tendes a perder senão o cordão de isolamento.