Plano Blatter

(Faltando um ano para a abertura da Copa que vai nos custar o olho da cara, não custa nada ler de novo essa crônica de 2009)

Na Copa de 50 tudo foi bem diferente. Metrô, conclusão da Arena, terceira pista do aeroporto, contorno ferroviário, Rodoanel, trincheiras, tudo somado com uma recauchutagem geral mostra que Curitiba precisa dos palpites da Europa para mudar o seu panorama urbano. Depois do Plano Agache, agora temos o Plano Blatter.

O cacique Tindiquera foi quem indicou o local para erguer esta Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Em seguida, quase todos os caciques que projetaram Curitiba vieram da Europa. Franceses, principalmente. Um dos mais importantes desses caciques foi o arquiteto francês Alfred Agache que, em 1940, recebeu a incumbência de estabelecer diretrizes para o crescimento urbano, estimulando e orientando o desenvolvimento. Sessenta e nove anos depois, sai o Plano Agache entra o Plano Blatter. E, se for para levar à risca os planos do presidente da FIFA, ainda veremos um indicado dele para presidir o Ippuc.

O Plano Agache marca Curitiba até hoje e, acreditem, não feito para a Copa do Mundo de 1950, quando (sem metrô, andando de bonde e carroça de polaco) Curitiba recebeu na “arena” da Vila Capanema duas partidas de segunda divisão: Espanha 3 x 1 EUA (15 mil pessoas); Suécia 2 x 2 Paraguai (10 mil pessoas).

De 1949 a 1951o prefeito de Curitiba foi Lineu Ferreira do Amaral. Além dos recursos naturais, pouco foi investido para trazer a Copa de 1950 para Curitiba. Alguns dizem que os comissários da Fifa, quando apareceram na cidade com o caderno (mimeografado) de encargos, foram recebidos pelos assessores da prefeitura na boate Boneca do Iguaçu. Dormiram na boate Quatro Bicos e de lá voltaram para o Rio de Janeiro encantados com a infraestrutura feminina da Maria Japonesa, especialmente com o primeiro quarto espelhado de Curitiba. A Vila Capanema foi escolhida porque foi o único estádio vistoriado pelo lado de fora, na madrugada, no trajeto entre a boate Boneca do Iguaçu e a Zona do Parolim.

Como subsede do Mundial de 1950, Curitiba ofereceu aos visitantes uma acolhida cordial e barata. Em termos de investimentos, o prefeito Lineu do Amaral só precisou passar a patrola no caminho do aeroporto e fazer uma boa limpeza no chafariz da Praça Osório. De resto, Curitiba recepcionou o grande evento esportivo com o que tinha de bom e do melhor: a Suécia só empatou com o Paraguai porque o time virou a noite anterior na Boate Marrocos, do Paulo Wendt. Os paraguaios, por sua vez, ficaram concentrados na boate Moulin Rouge e foram dormir muito bem acompanhados de belas argentinas. Os americanos levaram uma lavada dos espanhóis, mas também saíram daqui bem satisfeitos, como se estivessem em Las Vegas: foram para o Cassino Ahu e voltaram mais ricos do que chegaram.

Sorte no jogo e azar no amor. Convidados para um baile organizado pelo Clube Espanhol, os garanhões do Generalíssimo Franco só não entraram com bola e tudo porque receberam cerrada marcação homem a homem da tradicional colônia espanhola de Curitiba.