Estou lendo um livro que vem se revelando muito útil durante estas escaramuças da campanha eleitoral. Enquanto disparam os canhões de um lado e de outro, mergulho na verdadeira história dos piratas do Caribe: “República dos Piratas” de Colin Woodard (390 páginas, Editora Novo Século) é um relato divertidíssimo e repleto de aventuras daqueles marujos que, interrompendo rotas de comércio, saqueando os navios negreiros e mantendo a Europa sem comunicação com a América, tornaram-se heróis aos olhos dos oprimidos e da fértil imaginação do povo.

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Os piratas existem desde a Grécia antiga e ainda hoje infestam as rotas marítimas assaltando cargueiros, navios de contêineres e de cruzeiro. Além daqueles que desembarcaram na indústria fonográfica e cinematográfica para saquear o ouro das celebridades. E tem ainda aqueles – como hoje é muito comum – que se fazem de piratas mas não são piratas. São corsários.

Os autênticos piratas são muito diferentes dos corsários, indivíduos que saqueiam navios inimigos com autorização do governo. Geralmente confundem sir Francis Drake e sir Henry Morgan – para citar dois dos mais conhecidos – como piratas, mas eles eram na verdade corsários e realizavam seus ataques com total apoio dos seus soberanos da Inglaterra e da França. Eram os criminosos de chapa branca, digamos. Ambos foram condecorados por seus crimes e Morgan chegou a ser nomeado vice-governador da Jamaica. Até mesmo o famoso capitão William Kidd era um corsário bem-nascido que acabou se tornando pirata por acaso, quando entrou em conflito com os diretores da Companhia das Índias Ocidentais, a maior empresa da Inglaterra e a primeira a enxergar o futuro da globalização.

Os piratas da Era de Ouro da pirataria – que durou apenas dez anos, de 1715 a 1725 – não eram como os corsários da geração de Morgan, que agiam com a cobertura dos grandes negociantes. Os piratas agiam na iniciativa privada. Diferente dos bucaneiros, eles eram bandidos notórios, considerados ladrões e criminosos por todas as nações, incluindo as próprias. Ao contrário dos sabujos do rei, os “piratas da perna de pau” encarnavam a figura de Robin Hood, empenhados na revolta social e política. Eram marinheiros, trabalhadores forçados e escravos fugitivos se rebelando contra seus opressores: capitães, donos de navios e os autocratas das grandes plantações de escravos das Américas.

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A maioria dos livros e filmes sobre o assunto continua a tirar proveito genericamente dos piratas, não fazendo distinções entre os verdadeiros piratas e os corsários – homens mais respeitáveis com alvará para roubar.

A história de como surgiu o lendário pirata Barba Negra tem muito a nos ensinar nesta travessia dos mares bravios da campanha eleitoral. Devemos ficar atentos. Entre tantos candidatos, raros são os autênticos piratas que pedem licença para entrar na nossa casa pela proa. Com o propósito de saquear os votos da nossa família, a maioria é feita de corsários que atacam pela popa e se apresentam falando como papagaios de pirata.

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“Até uma boa decisão, se for tomada por motivos errados, pode ser uma má decisão”, diziam nas Ilhas do Caribe.