“Quando o diabo era piá, a gente dava uma vorteada no armazém e já se sabia quem ia ganhar a eleição. Agora que o computador tá dando as cartas, os ibopes da vida só servem pra nos dar o gorpe do xaxixo!” – desabafou o Animador de Velórios dos Campos Gerais, “atacado dos corno” com as pesquisas eleitorais.
Pelas contas do Jaguara, as urnas lhe deram um prejuízo de “mais ou menos sete bois gordos e mais sete engradados de cerveja”. Para quem conhece o Jaguara, a conta é de mentiroso. O que ele perdeu com o Aécio Neves, faturou com sobras no Beto Richa. De qualquer forma, mesmo escondendo que “saiu muito bem carçado”, o Jaguara tem toda a razão quando afirma que os institutos de pesquisas inventaram de “passá o gorpe do xaxixo”.
Segundo o dicionário dos falares de Ponta Grossa e arredores, do professor Heins Bowles, “gorpe do xaxixo” é uma expressão antiga, usada quando queremos dizer que estamos sendo passados para trás. Normalmente a expressão não se reporta a coisas de muito valor, o que não é o caso dos institutos de pesquisa. A origem da expressão é do tempo em que as compras eram feitas somente em botecos e armazéns. O dono do negócio, alegando falta de troco, cortava um pedaço de xaxixo e o entregava ao freguês, costume que, na prática, consistia em vender um pedaço de salame de marca menor, o tal do xaxixo.
Dias antes as bolsas de apostas dos Campos Gerais ferveram, com a boataria de que a revista Veja teria na agulha uma “bala de prata” para fulminar Dilma Rousseff na reta final. Baseado no chorume da Petrobrás, o povo já dizia que o Jaguara iria à falência. Abertas as urnas, mais escondido que orelha de freira, respondia o Jaguara aos credores:
– Que cobrem do Bartolo!
Bartolo, para os iniciados no idioma dos Campos Gerais, é o sobrenome de um delegado de polícia em Ponta Grossa na década de 60.
Agora que a Dilma “passou ripada”, fomos encontrar o Animador de Velórios dos Campos Gerais ainda “chorando pitangas”.
– Digo e repito: essa lorota das margens de erro nos passou de gorpe do xaxixo! E vou mais longe, porque não tenho medo de buia no cesto! Bastou o Lula tanger o eleitorado na flauta para o gado costear a cerca da Dilma.
No seu jeito de falar, arrematando o feijão “alhomatizado” com uma purinha de Morretes, o Jaguara nos confidenciou:
– Fui convidado para acompanhar a marcha das apurações com o meu amigo Requião. O caboclo é fela! Queria apostar comigo que tinha secado a quirera do Beto Richa! Deu pena do quera, não levei para casa uma caixa de vinho francês. Quando começaram a cantar as pedras, o home foi afundando a rolha, mais quieto que piá cagado.
Depois de reconhecer a derrota, Requião se despediu do Animador de Velórios dos Campos Gerais com um abraço de tamanduá:
– Obrigado pelo apoio! Quando você casá a muié é tua!