Pescadores em águas turvas

Pouco antes da Copa do Mundo, o especialista em marketing político Emmanuel Públio Dias fez uma educativa analogia para explicar porque o processo eleitoral é comparável a uma bacia hidrográfica, onde o rio principal é a intenção de voto: “Os fatos, os fundamentos, a imprensa e a própria atividade política seriam os acidentes geográficos, a base sedimentar do leito do rio, a topografia e as configurações das margens, tudo, enfim, o que dá forma, volume e curso ao rio principal”.

Emmanuel concluía que, “enquanto a bola estiver rolando, não adianta perder tempo em águas turvas, tentando adivinhar o resultado das urnas. Futebol é uma caixinha de surpresas e surpresas na política só depois da curva do rio”.

Com o fim da Copa do Mundo e a bacia hidrográfica correndo em níveis normais – com exceção de São Paulo, onde os fenômenos pluviométricos e políticos são imprevisíveis -, Emmanuel Públio Dias está nos sugerindo que cresceram as chances das oposições, hoje em 60%. No entanto, uma pergunta ele acha que é preciso fazer: o eleitorado quer mudanças, sim. Mas com ou sem continuidade do governo atual?

“As últimas pesquisas nos trazem a fotografia do grid de largada para as eleições presidenciais, candidatos, partidos e suas coligações já consolidados, sem o ruído da Copa do Mundo e até com uma saudável trégua dos movimentos sociais. Os institutos Datafolha e Ibope nos dão a mesma fotografia, apontando a liderança da presidente e um muito provável segundo turno, onde a candidata do PT venceria seus dois principais oponentes”.

Pela análise de Emmanuel, as pesquisas, crescentemente negativas e o desejo de mudança expresso por mais de 70% dos eleitores, produziram um movimento de intenção de voto “anti-Dilma” que não se expressa apenas na maior taxa de rejeição da presidente, mas na efetiva procura de um candidato que possa ser alternativa à continuidade do atual governo.

“Claro que as vantagens competitivas da equipe do governo ainda são muito poderosas, não só pelo tempo disponível de TV, mas pelo fato de que governos sempre têm enorme poder de convencimento e, inegavelmente, o governo petista desfruta de um fortíssimo patrimônio eleitoral resultante do legado do ex-presidente Lula e as políticas de seu governo, aprofundadas por Dilma Rousseff. Manter este patrimônio e estancar o desejo de mudança traduzido em mudança de governo é o principal desafio da situação, enquanto a oposição dispõe de um enorme capital que lhe foi dado gratuitamente, uma vez que por enquanto, seus eleitores estão votando no que entendem ser a tradução da pretendida mudança e não num programa alternativo de um partido ou candidato que sequer conhecem muito bem”.

Sim, o Brasil precisa de mudanças urgentes. No entanto, como os políticos são pescadores de ilusões, cabe aos eleitores saber pescar em águas turvas.