Pérolas da latinha

Antigo companheiro de redação aqui na Tribuna, o jornalista Sérgio Quintanilha era um atento colecionador de histórias de rádio. Quando algum radialista pisava na bola, ou na latinha, a patada batia no ouvido do jornalista. Apaixonado por automóveis, Quintanilha saiu de Curitiba para trabalhar na revista Quatro Rodas e, em seguida, fundou em São Paulo a revista Carro.

Dia desses, folheando guardados, achei algumas pérolas recolhidas pelo amigo Quintanilha. Com o ouvido colado no radinho, divirta-se com algumas delas. Outro dia conto outras.

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Alfredo Ribeiro é um nome conhecido no rádio. Já o Alfredo Placedes é um ilustre desconhecido. No início da carreira, Alfredo Ribeiro conseguiu emprego na Rádio Clube Paranaense com estilo que havia agradado ao ?capitão? Hidalgo, o chefe da equipe esportiva. A única coisa que não agradava em Alfredo era o estilo do nome: Alfredo Placedes.

– Alfredo, precisamos mudar o seu nome. Precisamos de nome artístico.

– Olha, Hidalgo: ainda bem

que você me falou isso. Vou te confessar uma coisa. Eu nunca gostei do meu nome. Esse Alfredo me irrita!

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Saul Raiz era o prefeito de Curitiba, Lombardi Júnior era o então chefe da equipe esportiva da Rádio Clube, e Alfredo Ribeiro foi narrar jogo no interior. No meio dos anúncios publicitários, Lombardi deixou um recado para Alfredo Ribeiro: ?De vez em quando manda um abraço para o Saul Raiz, que está nos ouvindo lá em Curitiba!?

Bola pra cá, bola pra lá, anúncios disso, daquilo, o recado foi para o ar nas ondas da B2.

– E de vez em quando manda um abraço para o Saul Raiz, que está nos ouvindo lá em Curitiba!

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Certa manhã, no programa A caminho do gol, o locutor Jair Júnior soube que Atlético, nos tempos de vacas magras, estava treinando no Regimento Coronel Dulcídio, no Tarumã. Como não costumava perder oportunidade para fazer uma média, Jair Júnior engrossou a voz:

– Eu quero aproveitar o ensejo para mandar um abraço para o meu amigo coronel Dulcídio, figura que tão bem soube representar o Atlético, que contribui para a grandeza do nosso futebol.

A reação foi imediata:

– Jair, um ouvinte nos telefonou dizendo que o coronel Dulcídio já morreu! interveio um repórter.

– Oh! Mas que notícia triste! continuou Jair, essa realmente é uma grande perda. Infelizmente eu estive dez anos afastado de Curitiba e não fiquei sabendo da morte do coronel Dulcídio, meu grande amigo…

Coronel Dulcídio participou do cerco da Lapa, onde foi ferido, falecendo no dia 8 de fevereiro de 1894.

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Dizem as más línguas que o jornalista Carneiro Neto, logo nos seus primeiros dias de rádio, foi escalado para cobrir um GP no Tarumã. O negócio dele era bola, boleiro, mas os cavalinhos o fizeram pisar na bola. Logo que foi acionado pelo locutor principal, Carneiro Neto largou bonito:

– Estamos aqui no vestiário dos cavalos…

Pior que a estréia do Carneirinho, só mesmo a narração de J. Padilha:

– Foi dada a largada! Todos os cavalos saíram em primeiro lugar!

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O repórter Olavo de Souza certa vez se deu mal ao tentar corrigir, no ar, um tal de Marco Antônio, ponta-esquerda do Noroeste, num jogo com o Colorado na Vila Capanema. Veja o diálogo:

– … porque a gente ?somos? de Bauru…

– Você quer dizer ?nós somos? de Bauru, não é Marco Antônio? cortou o repórter.

– Ah… você também é de lá? Que bom. Muito prazer…