Significativo o número de afetos que se foram nos últimos anos. Escritores e jornalistas, perdas e danos de difícil reposição: Paulo Leminski; Jamil Snege; Cesar Bond; Manoel Carlos Karam; Mussa José Assis e agora Hélio Teixeira.

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Abatidos pelo cigarro e pelo álcool no meio de um caminho que os levaria ainda mais longe, de uma forma ou de outra se valeram da famosa ‘Defesa Hemingway‘ (com exceção de Karam, que bravamente conseguiu parar de fumar). Conforme o escritor Stephen King – que conseguiu transformar alguns de seus livros em garrafas -, Hemingway pensava mais ou menos o seguinte: ‘Como escritor, sou um sujeito muito sensível, mas também sou um homem e homens de verdade não sucumbem à própria sensibilidade. Só os fracos fazem isso. Por isso eu bebo. Além do mais, eu consigo lidar com isso. Um homem de verdade sempre consegue!‘.

Depois de se livrar do álcool, das drogas e da nicotina, Stephen King se contrapôs às justificativas de Hemingway com suas próprias experiências: ‘A ideia de que criatividade e substâncias que alteram a mente estão ligadas é um dos grandes mitos pop-intelectuais do nosso tempo.

Os quatros escritores do Século XX cujo trabalho é, em grande parte, responsável pelo mito são, provavelmente, Hemingway, Fitzgerald, Sherwood Andersen e o poeta Dylan Thomas. Eles formaram nossa visão de um deserto existencial, onde as pessoas estão isoladas umas das outras e vivem em uma atmosfera de estrangulamento emocional e desespero. Esses conceitos são muito familiares para a maioria dos alcoólatras. Escritores viciados não passam de pessoas viciadas. Qualquer defesa de drogas e álcool como necessidade para embotar sensibilidades mais refinadas não passa de conversa autopiedosa para boi dormir‘.

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De saideira, Stephen King arremata: ‘Hemingway e Fitzgerald não bebiam porque eram criativos, alienados ou moralmente fracos. Bebiam porque é isso que bêbados estão programados para fazer. É bem provável que gente criativa de fato esteja mais propensa ao alcoolismo do que gente de outras áreas, mas e daí? Somos todos iguais quando estamos vomitando na sarjeta‘.

Leminski, Jamil, Bond, Karam, Mussa e Hélio, cada um ao seu modo, nos serviram de exemplo na literatura e no jornalismo. Foram nossos mestres. Inclusive na luta contra o vício, com eles muito aprendemos.

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