Pequenas enormes vergonhas

Como se fosse um chute no estômago, sempre que a televisão destaca o técnico Joachim Löw na área técnica da seleção alemã,vem na memória a imagem asquerosa em que ele foi flagrado comendo a meleca do nariz. De tão desagradável, a cena que se passou na Copa do Mundo da África do Sul é um filme que, com certeza, ainda deve passar na cabeça do Joachim alemão. Foi uma pequena enorme vergonha.

Com dezenas de câmeras junto ao gramado e o suporte da tecnologia digital, entre uma partida e outra as imagens fazem o grande espetáculo desta Copa do Mundo. Elas nos mostram a surpreendente elegância do futebol alemão, a gana dos heróis da Costa Rica, o talento de James Rodríguez – a até então invisível camisa dez da seleção colombiana -, o narcisismo de Cristiano Ronaldo, enfim, um espetáculo visual onde só as dentadas de Luisito Suárez foram mais chocantes do que aquela pequena enorme vergonha de Joachim Löw.

Pequenas vergonhas, todos nós temos uma para contar. E quem as têm, pelo menos uma, acorda e dorme com ela no miolo do travesseiro.

Especialista em pequenas vergonhas foi o arquiteto carioca Marcos Vasconcellos, autor de uma série de livros de mesmo nome: “Pequenas Vergonhas”, lançamento de 1983 da editora L&PM. Numa daquelas mais de 300 histórias do falecido arquiteto, tem uma das duas senhoras intrometidas que se aproximaram maravilhadas do paisagista Roberto Burle Marx,em meio aos introitos de um banquete. Por intrometimento, observa Vasconcellos, certas pessoas gostam de parecer íntimas.

Uma das referidas madames, com gestos langorosos e uma afetação melosa, disse a Burle Marx:

– Roberto, você sabe que minhas plantas adoram ópera? Mas preferem a “Flauta Mágica”, não se dão bem com a italiana. Crescem que é uma coisa…

– Pois as minhas preferem Brahms – disse a outra com o mesmo tom de voz -, principalmente o ciclo “Magelone”. E as suas, Roberto?

O jardineiro Burle Marx foi de uma simplicidade enrubescedora:

– As minhas preferem bosta!

O escritor Jamil Snege também passou por inesquecíveis pequenas vergonhas. Numa delas, ao atravessar na madrugada o ermo da Praça Osório, Jamil observou com o canto do olho um conhecidíssimo jornalista nos braços de um soldado raso. Digamos que o engravatado homem de imprensa estava sendo entrevistado, com a cabeça baixa, falando ao microfone com sua voz mais grossa que papel de embrulhar prego.

O escritor apertou o passo, passou ao largo, mas mesmo assim ouviu do breu o vozeirão:

– Jamil! Não cumprimenta mais os amigos?

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Vergonhosa para os argentinos, um imenso orgulho para os suíços.  A sofrida vitória de ontem foi uma pequena enorme vergonha para as súmulas históricas do futebol argentino.