O brasileiro gosta de levar vantagem em tudo. Especialmente no Maranhão, onde se especula qual a vantagem que o senador Sarney vai levar com um novo plebiscito para que os brasileiros decidam se apoiam ou não a comercialização de armas de fogo e munição. Pelo sim, pelo não, muitos senadores estão mais preocupados em saber, desde já, quanto em recursos não contabilizados a indústria bélica vai botar na campanha.

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Pesando prós e contras, cautela, canja de galinha e distância de uma arma de fogo não fazem mal a ninguém. Basta escutar os argumentos de quem já teve um parente ou amigo fuzilado por uma bala perdida, para se sensibilizar pelo desarmamento.

Apesar do absurdo de se convocar um novo plebiscito apenas cinco anos depois, a voz do povo é a voz de Deus: no caixa do supermercado, trinta e quatro pacientes senhoras aguardavam com os carrinhos abarrotados, quando um camarada fura a fila, impaciente, com uma pequena cesta, com pequenas compras: uma cerveja, uma laranja, uma pera, um pé de alface, um tomate, um pão e um bife.

Uma das senhoras espera o afobado pagar a conta e então pergunta:

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– O senhor é solteiro!

– Como é que a senhora adivinhou?

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– Pela sua má educação. O senhor é solteiro porque nenhuma mulher casaria com um sujeito tão grosso e estúpido.

Eis aí uma das vantagens do desarmamento. Se aquele “cavalheiro” portasse uma arma, a história não teria este desfecho exemplar.

Por outro lado, há situações em que uma arma faz uma tremenda falta. Quando nos fazem perguntas cretinas, por exemplo. Não fossem respostas bem-humoradas, os índices de criminalidade dobrariam. No restaurante, o casal senta-se à mesa e o garçom pergunta:

– É pra dois?

Outra situação, muito comum com os repórteres de televisão. A velhinha subindo a escadaria da igreja de joelhos é interrompida nas suas orações:

A senhora está pagando promessa?

Ainda na tevê, muitos repórteres escapam com vida porque estão protegidos pela liberdade de falar mesmices.

Sinceramente, dá vontade de dar um tiro na televisão quando o locutor “dispara” o arsenal de sempre: “Na verdade”, “a nível de”, “adrenalina pura”, “por enquanto”, “que jogo é esse?”, “segue ganhando”, “vítima fatal”.

Vítima fatal é ouvido do telespectador. Tolerância zero, são momentos como este que justificavam plenamente a campanha pelo desarmamento amplo, geral e irrestrito. Inclusive o desarmamento do espírito, quando você é convidado para uma festa, bate na porta e a anfitriã pergunta, cheia de dentes:

– Oi, você veio?

Pelo sim pelo não, o Brasil precisa é de um plebiscito para aposentar imediatamente o Zé Sarney.