Pelas terras do Alentejo

Pelas terras do Alentejo, no Sul de Portugal, corre vinho. As vinhas tomam conta da paisagem e no início de cada ala há roseiras plantadas, para servir como alerta para o ataque de fungos. A tradição vinícola do Alentejo tem uma história bem antiga, vem dos ancestrais, que produziam em pequenas quantidades e para uso doméstico; ao mesmo tempo, é bem recente, pois foi em 1971 que os vitivinicultores, atropelados pela globalização, juntaram suas forças e passaram a encarar o assunto com profissionalismo de mercado. Os produtores de vinho do Alentejo são os navegantes dos tempos modernos: atravessam os sete mares para apresentar suas especiarias, porque vender é preciso.

Eram 15, hoje são 600 associados à Cooperativa Carmim, em Reguengos, próximo a Évora. Reguengo quer dizer terra da Coroa, no tempo em que Portugal era um Reino. Hoje, o que coroa aquelas antigas terras d’el Rey é a excelência do vinho, ali produzido, comercializado por todo país e exportado à base de 15 milhões de litros\ano, entre tintos, brancos e espumantes. Os nomes são bem sonoros, às vezes remetem à cepa, outras à terra de origem: Monsaraz, Reguengos, o recém-produzido Gouveia – ainda fora do mercado -, Trincadeira, Alicante Bouschet, Bom Juiz. Vinhos que podemos encontrar no mercado brasileiro, distribuídas pela importadora curitibana Porto a Porto.

Em Estremoz – palavra que deriva de tremoço, um grão comestível -, José Portugal Ramos plantou vinhas em 1989 e dois anos depois começou seu empreendimento. Tinha cinco hectares, hoje tem 400. Ele, que já foi consultor, agora conta com sábios especialistas para administrar da melhor maneira cada pedaço daqueles solos, argilosos, xistosos, calcáreos.  Uma das experiências é o sistema “semi-sprowl”, uma abertura maior no arame superior que sustenta as vinhas. Outra está sendo feita num pedaço de dois hectares, um pequeno monte, com a rocha mãe quase à superfície. Dali, se tudo correr conforme o esperado, nascerá um excepcional Estremoz Premium.

Guarde este nome, bem como Vila Santa – cujo principal comprador é a Suécia -Marquês de Borba Reserva e Quinta da Viçosa. São joias raras de um negócio multimilionário no mundo contemporâneo. Se vir esses nomes, já sabe: é tudo feito com uvas das terras de além Tejo, uma região belíssima, com casas brancas de rodapés azuis ou amarelos, mesmas cores das esquadrias das janelas. O amarelo espanta mosquitos, dizem. E o azul puxa para dentro das casas a luz daquele céu sobre a planície, em dias de primavera.