Pedestre, princípio e fim

“Todas as mudanças no trânsito têm de ser boas para a cidade, não para os motoristas. A régua da saúde urbana continua sendo aquele que anda a pé. Ou os multiplicamos, ou não haverá bem viver” (Editorial da Gazeta do Povo)
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Caso de amor e ódio, em Curitiba a discussão em torno da calçada acontece desde sempre, como se o exíguo espaço reservado ao pedestre servisse para desviar a atenção do contribuinte para assuntos bem mais pedregosos como saúde, transporte e educação. Além das falcatruas terceirizadas, naturalmente. Os nossos passeios sempre consumiram muito verbo e pouca verba. E quando se fala em mobilidade urbana, o pedestre é humilhado pela soberba de motoristas e ciclistas. Por isso e por tanto, já propus aqui na nesta coluna a criação da Secretaria do Pedestre, cujo titular seria o escritor Carlos Alberto Pessôa. Ninguém nessa cidade já gastou tantas solas de sapato quanto o Nêgo Pessôa.

O editorial da Gazeta veio com boa antecedência, em boa hora para alertar os candidatos a prefeito que carros e bicicletas são criaturas da indústria; pedestres são criaturas de Deus:

“Curitiba de tantas glórias urbanísticas não é nenhum paraíso dos passeios. A manutenção é sofrível; soa estranha a troca dos granitos, pródigos na região, pelos descartáveis tijolinhos; faltam mestres calceteiros e o uso de tecnologias construtivas que em outros países fazem escola. Em espaços em que a reurbanização passou pela calçada, só há o que agradecer. Um exemplo é o trecho alargado da Marechal Deodoro, no Centro de Curitiba. A avenida que perdeu espaço na medida em que a “XV” ganhou, a partir do advento do Calçadão, em 1972, caiu novamente no gosto dos pedestres. Há motivos – a via é amigável para os pés e para os olhos. Bom? Ótimo, mas sem esquecer que essas notas sempre baixam. A mobilidade é regida pela insatisfação. Há avanços – as vias elevadas, por exemplo -, mas a quantidade de carros e motos só faz crescer.” Segundo a Gazeta, os candidatos a prefeito precisam receber uma nova pauta de discussões: “Se há um meio de essa conversa não se perder no infinito, esse meio é botar no centro da história aqueles que andam. Quanto mais os vermos, mais teremos provas de que chegamos a algum lugar”.