Pé-vermelho & leite quente

Nascido em Londrina, Beto Richa foi o primeiro pé-vermelho prefeito de Curitiba. Uma façanha, venceu na capital com mais votos que todos os outros curitibanos anteriormente eleitos. Rixa por rixa, quebrou a longa tradição de rivalidade. Mesmo assim, os ciúmes continuam.

Como amostra grátis, circula na internet os perfis de Curitiba e Londrina traçados por dois bicudos que não se beijam. Os textos originais não são exatamente estes, ganharam aqui alguns reparos. Para mais ou para menos.

Curitiba, segundo Londrina

Curitiba é uma cidade-estado que fica encravada no sudeste do Paraná, vive num mundo cor-de-rosa à parte e não costuma se misturar com as demais cidades e habitantes do Paraná. Na capital, ninguém assiste à Globo ou ao SBT. Lá eles vêm o 12 ou o 4. Sua influência nas demais regiões do Estado é nula. Foi desmembrada a força na década de 40 pelo povo caipira do interior. A partir daí, gaúchos e paulistas dividiram o Estado em três territórios: a parte gaúcha ao sul, com capital em Cascavel; paulista ao norte, com capital em Londrina; e a zona neutra (ou fresca) no Primeiro Planalto. Curitiba, a fria, diz que possui três times de futebol que se acham grandes. Bem por isso eles só têm torcidas dentro dos próprios muros e suas influências não vão além do primeiro pedágio em cada saída da região metropolitana. Se um indivíduo em qualquer outro ponto do Paraná estiver usando uma camisa desses timinhos é considerado louco, e vira rapidamente motivo de chacota. É um povo receptivo e amistoso, isso se “receptivo” e “amistoso” têm o mesmo significado de “povinho chato e de nariz empinado”. É o lugar das mulheres mais lindas, quentes e gostosas, mas em geral cobram muito caro. Cidade que se orgulha em ser um “modelo de capital a ser seguido”, tem ônibus coletivos que só andam lotados e possui as calçadas mais toscas e indecentes de todo o planeta, onde as garotas topetudas parecem deusas ao andar sobre aquele chão.

Londrina, segundo Curitiba

Londrina se autoproclama a “Megalópole do Interior Brasileiro”: segunda maior cidade do Paraná, terceira do sul do País e das maiores da América Latina. Se considera a capital do interior. O prefeito é da cidade e o governador é de São Paulo. Se arrogam os eleitores mais politizados do Brasil, mas no entanto só elegem “monstros”. No que imitam os paulistas. Na cabeça dos londrinenses a cidade possui o maior shopping e o maior lago urbano das Américas. Isto é um verdadeiro absurdo, já que todo londrinense sabe que tem o maior shopping e o maior lago urbano do hemisfério sul do planeta. Londrina tem o maior estádio particular do mundo: o Morumbi, do São Paulo Futebol Clube. Assim como possui a maior torcida do mundo, a do Sport Club Corinthians Paulista. É uma cidade cosmopolita, colonizada por ingleses despejados na selva, nativos indígenas, japoneses, paulistas e outras etnias. O pé-vermelho, ser mítico da região, acha que é inglês; os telefones públicos (orelhões) são cabines vermelhas de madeira, assim como em Londres. Os moradores acham que a capital do Estado do Paraná deveria ser Londrina e não Curitiba, devido ao porte e importância da megalópole. Acham que o Lago Igapó é praia, se orgulham de ter as duas maiores favelas da América Latina (Bratac e Santa Fé) e de possuírem o maior e melhor festival de teatro do Brasil. A vida cultural da cidade gira em torno do Shopping Catuaí, onde 54% da população gasta suas tardes de sábado andando sem rumo e sem saber ao certo o que está fazendo na escada rolante. Na verdade, Londrina não fica no Paraná, e sim no sul de São Paulo, com quem mantém laços políticos e culturais muito mais fortes. Entretanto, os mapas escolares estão desatualizados, já que a cidade não tem verbas para financiar a troca de todos os mapas da maior rede escolar do mundo ocidental e oriental.