Pé na estrada, Requião!

Observadores da cena política e os que acompanham atentos a agenda do governador não têm a menor sombra de dúvida: Roberto Requião, amorcegado com os peemedebistas de bico longo e vermelho, é candidatíssimo a presidente da República.

Daqui em diante, na agenda palaciana não vão faltar pedidos para gravar entrevistas, cordiais visitas à imprensa canalha e, a qualquer aceno da mídia nacional, o governador há de responder: “Me chama que eu vou”.

Com o pé na estrada, o candidato deve varar o Brasil. Filho do Sul Maravilha, Roberto Requião tem nos Mello e Silva suas origens nordestinas, raízes que lhe devem abrir as portas do sertão, os segredos do Bolsa Família. O que não é pouco. Mas o manejo da cultura e do linguajar do nordeste é fundamental. Para tanto (sem risco de chamar Jesus de Genésio, comer mamona com jerimum, confundir buchada de bode com ensopado de jegue), empresto ao governador esse rápido dicionário de dísticos em nordestês, uma compilação emprestada por um amigo recém-chegado de uma jornada de pesquisa científica e cultural acerca dos costumes regionais: água de coco, cerveja, lagosta, caranguejo e camarão.

Abaitolado: o mesmo que aperobado. Homem efeminado. / Aboletado: entrado sem ter sido convidado. / Acaralhar: avacalhar. Desandar. / Acochado: apertado. / Ajumentado: aloprado. Bem dotado. / Alisar banco: namorar sem dizer se é pra casar ou pra que é. / Amorcegado: namorando atracado no pescoço. / Ande tonha: venha pro arrocho! / Apagar o foquite: esticar as canelas. Morrer. / Aperreio: falta de dinheiro; lugar superlotado; ou escassez de tempo. / Apetrechado: bem vestido. Arrumado. / Bacafusada: bafafá. / Bater o centro: inaugurar os trabalhos; tomar a primeira de uma série de muitas. / Bebo: bêbado (há três tipos básicos de bebedores: o bebo égua, que é o que cai; o bebo pai d’égua, que é o que paga; e o bebo fio duma égua, que é o que apanha) / Benzer o pé do ouvido: levar um tabefe no escutador de novela. / Bichoso: homem efeminado. / Borrachinha: mulher gostosa e esguia. / Borrachuda: mulher gostosa e carnuda. / Bulida: moça solteira que não é mais virgem. / Camisa ecológica: porque tem um efeminado usando. / Capando mosquito: faca muito amolada. / Cata-corno: ônibus lotado de bairro periférico. / Celular: garrafa de cachaça de bolso. / Chancuda: mulher gorda. / Chapuleta: grande. Maior que o convencional. / Cheio da fanta: bêbado. (Que também pode ser: cheio de pernas, cheio do arame, cheio do cacau, cheio dos alpiste, cheio dos perfume, cheio dos quissuco.) / Coisar: o mesmo que dar o grau. Coisou, tá coisado! / Com a periquita queimada: muito aborrecido. / Com o rabo que não cabe uma jaca: com muito medo. / Conta aquela que tu morre no fim: para dizer que não acreditou numa história. / De bucho: grávida. / De rabo pruma banda: mal-humorado. Aborrecido / Estar de couro curto (diz-se da pessoa que deixa escapar um vento quando se abaixa) / Feder a cão queimado: confusão. / Lapingochada: ato sexual. / Lavar o peritônio: tomar uma cerveja só pra lavar a garganta. / Mama na égua: cabra sem coragem. Um bosta! / Matricular o menino: fugir na hora do expediente para a prática do sexo. / Morto dentro das calças: sujeito preguiçoso. / Não dar água a pinto: não dar a menor chance. / Não dar nem as horas: fazer de conta que não viu. / Negatofel: negativo. / No grude: no amolegado. Nos agarrados. / O arroz tá queimando: para dizer a alguém que sua roupa íntima está entrando na bunda. / Pastel de carne de alma: e alma tem carne? / Peidar na rabichola: falhar na conquista amorosa. / Rebolar no mato: jogar no lixo. Botar fora. / Um goipim: um golinho. / Uma truaca: uma talagada. / Viçar: excitar-se. Dizem as más línguas que as moças novas, apaixonadas pela primeira vez, vivem viçando. / Zé fini: Fim.

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Tudo como dantes no quartel de Abrantes, esta coluna (ligeiramente adaptada) foi publicada no dia 18 de setembro de 2005.