Roberto Requião foi mordido por um cachorro que não balançava o rabo. O rabo é que balançava o cachorro. Na escolinha de governo desta terça-feira, o governador ordenou que a cachorrada deve ser tratada no cacete.

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Que o Senhor Governador tem delírios de incubada raiva, os olhos mostram. Só não tínhamos conhecimento do ódio que guardava aos cães e da vingança maligna propalada em público, ao pregar o suplício da cachorrada.

O que diria Brigite Bardot que deseja ser enterrada no cemitério de cães de Paris – ao saber do exemplo pela TV Educativa? Como vai reagir a atriz Suzana Vieira, que acaba de ensinar que o ?cachorro é um ser humano que une as pessoas?? Princípio este baseado no ex-ministro Rogério Magri, ao justificar o uso de carro oficial para transportar sua cadelinha ao veterinário: ?O cachorro é um ser humano como outro qualquer?.

?A razão de eu amar tanto o meu cachorro é porque quando chego em casa ele é o único no mundo que me trata como se eu fosse os Beatles.? Parafraseando o comediante Bill Maher, a razão para o súbito ódio do governador à raça canina deve ser porque, ao chegar à Granja do Cangüiri, Sua Excelência é tratado pelos quadrúpedes como se fosse um cruel veterinário de seu particular zoológico.

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?A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana?, dizia Charles Darwin. Mas nem Freud para explicar tamanha aversão de Requião aos pobres animais: ?Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações?.

Pesquisas científicas são categóricas: ?Entre 135 criminosos, incluindo ladrões e estupradores, 118 admitiram que quando eram crianças queimaram, enforcaram ou esfaquearam animais domésticos?. Roberto Requião não pode ser incluído nas categorias criminosas acima, no entanto, por ordenar a chacina da cachorrada, imagina-se que tenha matado muito passarinho quando criança.

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Governador, ?falai aos animais, em lugar de lhes bater?, ouça as palavras de Tolstoi. Não subverta a frase do Marquês de Maricá: ?Ninguém pode se queixar da falta de um inimigo (amigo), podendo ter um cão?.

Se tem fundo de verdade o ditado popular, quando diz que ?é melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro?, a cachorrada que late em torno do poder deve ter rasgado os fundilhos do mandatário. Porque também é pura verdade o que ensinou Martinho Lutero: ?Existem três cachorros perigosos: a ingratidão, a soberba e a inveja. Quando mordem deixam uma ferida profunda?.

Heráclito dizia que o cachorro só ladra a quem não conhece. Roberto Requião não precisaria mandar baixar o pau na cachorrada, se soubesse que ?os cães são melhores que os seres humanos porque eles sabem, mas não contam?, conforme o testemunhou a poeta Emily Dickinson.

Quando late o cão velho, deve-se ir olhar. Quando fala o velho sábio, como Mark Twain, deve-se ouvir: ?Se você pega um cachorro faminto e o torna próspero, ele não morderá você. Esta é a principal diferença entre um cachorro e um homem?.

Assim mordido, o Senhor Governador deve estar cercado de prosperidades. Enquanto os cães uivam de dor, a caravana do palácio passa! E pau na cachorrada! que não carece respeito, de quem não se dá ao respeito.