Pasquino, Pasquim e internet

(Diário de Roma)

Pasquino é um jornalista respeitado internacionalmente. Mora numa pracinha que leva seu nome, atrás da Embaixada do Brasil na Piazza Navona, em Roma. Na origem, era uma estátua grega. Ele é torto, não tem braço, olha para a direita e segura os restos do que seria outra imagem. É uma das estátuas faladoras de Roma. Mas estátua fala?

Desde o século XVI e até hoje, o Pasquino recebe as falas indignadas da população. É um suporte de reclamações, feitas em prosa e versos satíricos. Os papeis escritos são colocados a seus pés, colados em seu pescoço ou entorno (conforme mostra a foto) na calada da noite. Nos tempos antigos, um dos alvos favoritos dos protestos anônimos era ninguém menos que o Papa, quando Igreja e Estado eram um poder só, a par e passo.

O nome Pasquino ninguém sabe direito de onde vem. Tem quem diga que era um barbeiro satírico, muito engraçado. Outros dizem que um professor de Latim dava aulas ali na pracinha. Seus alunos o acharam parecido com a estátua e começaram a colar mensagens no pescoço dela.

Derivada do Pasquino veio a palavra “Pasquim”, nome daquele jornal tabloide feito no Rio de Janeiro, nos tempos da ditadura, e que escancarava sua bocarra para denunciar abusos e desvendar verdades encobertas. Sempre no maior humor, desbocado e irônico. Uma “estátua falante” naqueles anos de boca fechada.

Mural democrático e anônimo dos protestos da população, o Pasquino é a expressão em mármore do que significam hoje as redes sociais na internet. A liberdade de expressão.