“Mineiro só é solidário no câncer.” A frase foi celebrizada por Nelson Rodrigues na peça “Bonitinha mas ordinária”, dita por um dos personagens que a atribuía ao intelectual Otto Lara Resende, o mineiro que jurava nunca ter dito nada parecido, mas assim ficou para a história do teatro brasileiro e para o folclore popular. Parafraseando Lara Resende (ou Nelson Rodrigues?) diria que o “paranaense só é solidário com o Paraná Clube”. Ou nos infortúnios do tricolor.

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Dá para constatar essa manifestação de solidariedade à Vila Capanema (que num outro infortúnio a Vila foi devorada pelo Jardim Botânico) no bar onde assistimos aos últimos desastres da “lanterninha” do campeonato. “Os telespectadores do boteco caberiam numa Kombi”, diria o escritor Manoel Carlos Karam , criador dessa maledicência em seus tempos de redator da Triboladas. Numa kombi ou numa carroça, mas ali estava representado (como diria o ilustrado político) o arco da sociedade: tinha engenheiro, estudante, advogado, comerciante, sindicalista, artista, aposentado, dois garçons e um paranista. O que seria uma estatística da torcida paranaense: entre dez torcedores, um deles veste a camisa do Paraná Clube. Ou estou redondamente enganado, Ernani Buchmann?

Exceto o paranista, de resto todos comungavam um sentimento de solidariedade: não tinham motivos para torcer, mas torciam para o tricolor sair da beira do abismo em que se encontra. Ressentimentos passam com o vento, somos paranistas solidários.

“Não quero tripudiar sobre ninguém. Junto a isto um insanável sentimento de simpatia, que me domina, por todos os decaídos” -confessava Otto Lara Resende, numa frase que pode explicar o único fio de cabelo que une as torcidas do Coritiba e Atlético Paranaense. Ou seja, coxas e rubro-negros têm a convicção de que o Paraná Clube é um adversário de estimação, o caçula enjeitado de uma família que, no momento, tem apenas dois herdeiros destinados à fortuna.

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“O paranaense só é solidário com o Paraná Clube.” De resto, a torcida paranaense está dividida. Principalmente na política. Tudo nos desune, tudo nos separa, porque – para encerrar com outra frase de Otto Lara Rezende – “abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto”.