Paranapoema

No final do ano passado, essa coluna aqui acolhida na editoria de Cidades publicou uma lista de municípios com os nomes mais poéticos do Paraná. A poesia dos municípios.

Começamos com Ponta Grossa que, ao contrário de Campo Largo, escorrega no campo da galhofa, e demos um giro por belas localidades: Ventania, Floraí, Fênix, Dois Vizinhos, Cerro Azul, Grandes Rios, Pitanga, Sapopema, Guaíra, Laranjeiras do Sul, Assaí, Bela Vista do Paraíso, Formosa do Oeste, Francisco Alves, Corbélia, Guaciara, Guairacá, Iretama, Ibiporã, Iporã, Imbaú, Irati, Lambedouro, Verê, Pérola, Pitanga, Sarandi, Juranda – entre tantas outras – até chegar em Paranapoema – como bem lembrou um atento leitor e amigo, o jornalista Jorge Eduardo Mosquera.

Maringá é uma canção, Paranapoema é a poesia no próprio nome. Situada no noroeste do Paraná, na região de Paranavaí – outro belo nome -, Paranapoema tem apenas 2.347 habitantes e um PIB per capita de R$ 6.753,28 (IBGE/2003). Poema encravado no nome, a cidade é tão esquecida quanto a própria poesia, nestes tempos de rima pobre e tosca prosa. Uma das últimas notícias que tivemos de Paranapoema foi quando mais de 350 policiais militares cumpriram ordem de reintegração de posse da fazenda Campo Santo, ocupada por 149 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que não estavam lá em busca de poesia.

Se os sem terra não foram em busca de uma rima rica, poderiam lá encontrá-la. Isso se a Secretaria de Cultura do Paraná tivesse a felicidade de transformar Paranapoema em uma feliz cidade dedicada à poesia.

Da gastronomia à cultura, Campo Mourão é a Capital do Carneiro no Buraco; Morretes é a Capital do Barreado; Guaíra é a Capital do Pintado na Telha; Marechal Cândido Rondon é a Capital do Boi no Rolete; Santa Helena é a Capital do Costelão; Matinhos é a Capital do Peixe à Caiçara; Toledo é a Capital do Porco no Rolete – e se Londrina é a Capital do Domingos Pellegrini, por que não fazer de Paranapoema a Capital da Poesia?

É certo que um milhão de versos não resolvem as carências essenciais de uma cidade, mas a poesia pelo menos eleva o espírito e a auto-estima.

Seria pedir muito ao governador Roberto Requião um concurso nacional de poesia chamado Paranapoema? Ou também internacional, com a participação de los hermanos de língua espanhola?

Com sede em Paranapoema – endereço da poesia – o concurso seria de responsabilidade da Biblioteca Pública do Paraná, que tem no diretor Cláudio Fajardo um nome competente para tocar o projeto, e faria da cidade nome de livro, e não mais um poema esquecido bem no alto do mapa do Paraná.

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Seria pedir muito ao governo? Há cerca de dois anos levamos ao governador Roberto Requião a sugestão de erguer no município de Palmeira um memorial à Colônia Cecília, no local onde os anarquistas italianos se estabeleceram. Idéia do iluminador Beto Bruel – que ainda sonha com um projeto de Oscar Niemeyer -, Roberto Requião foi receptivo ao projeto: ?Amanhã mesmo, vou mandar a Secretaria de Cultura estudar o assunto. Só que eu mesmo vou desenhar o projeto. Afinal, o Niemeyer é comunista; e o único anarquista aqui sou eu? – fez graça o governador, num almoço ao cartunista Ziraldo na Granja do Cangüiri.

Até hoje Beto Bruel está esperando a Secretaria de Educação estudar o assunto. Enquanto isso, os proprietários de terras da antiga Colônia Cecília passaram os tratores nos últimos resquícios da história. Do sonho anarquista de Giovanni Rossi, não sobrou pedra sobre pedra.

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