Paraná D.O.C.

Com o tempo assim convidativo (pelo menos até ontem), uma boa opção para o fim de semana seria ajudar a fazer crescer o PIB (Produto Interno Bruto) paranaense, unindo o útil ao agradável. Serra acima, poderíamos começar por Tibagi, saboreando a paçoca, a quirera com costelinha de porco e o quibebe dos velhos tropeiros. Em Ponta Grossa (como aperitivo ao Churrasco D.O.C.), o chope no Tito, com uma serpentina de cobre de 30 metros de comprimento.

Serra Abaixo, a passagem obrigatória pela Caçarola do Joca, em Antonina, onde nos servem (em memória do Joca) a melhor casquinha de siri do mundo! Seguindo em frente, para uma longa expedição de reconhecimentos no berço do Paraná, Paranaguá e a Ilha dos Valadares, como nos revelou a jornalista Elisa Lopes numa rica reportagem da Gazeta do Povo. Numa pequena associação na Ilha dos Valadares chamada Mandicuera, comunidade que preserva a cultura do fandango, do boi de mamão e a Folia do Divino, a repórter nos revelou que, além das lendas de pirata, às margens do rio Itiberê podemos encontrar cachaça, melado e uma outra lenda para agregar valor à economia caiçara, como nos conta Elisa Lopes:

“Nas festas de fandango, além da dança e comida farta, não podia faltar uma boa bebida para animar a noite. De Guaraqueçaba veio a Cataia, infusão de pinga com folhas de cataia, chamada de uísque caiçara. De Paranaguá, mais precisamente do Valadares, nasceu a Mãe Ca Filha, mistura de cachaça branca com melado de cana, em uma referência à origem das duas, que são derivadas. O morador Eloir Paulo Ribeiro de Jesus, conhecido por Poro, diz que aprendeu a receita da bebida com mestres fandangueiros da Ilha dos Valadares e que hoje produz para as festas da região, com rótulo personalizado e tudo o que se tem direito. Misturar um quarto de melado com três quartos da cachaça é simples, conta ele, mas a diferença está no ritual. “A gente faz no terceiro dia de lua minguante. Vamos até o mangue, às 5 horas da madrugada, com uma garrafa vazia, para pegar três estalos de tambarutaca (espécie de crustáceo que vive no mangue e produz um som seco). Seguramos a boca da garrafa para não escapar os estalos e vamos até um galo: assim que ele canta, prendemos também o primeiro canto dele. Depois tem que chegar perto de um cão sarnento e prender um latido. Aí, basta misturar a cachaça e o melado”, brinca Poro em tom de provocação, pois em Mandicuera o que não falta é lenda.”

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Denominação de Origem Controlada ((DOC) é um sistema de aferição de qualidade utilizado para certificar produtos de origem garantida. Desde os vinhos, queijos, manteigas, presuntos da Itália, passando pelo Champanhe francês, certifica o que há de melhor em toda a Europa. Essa designação é atribuída a produtos produzidos em regiões geograficamente delimitadas, que cumprem um conjunto de regras consignadas em legislação acatada em todo o mundo.

Em Morretes, apesar dos insistentes pedidos do “gourmet” e “
gourmand” Luiz Alfredo Malucelli, o Malu, até hoje se fazem de surdos quando se trata de botar ordem na panela do Barreado. Em Ponta Grossa o Churrasco D.O.C., conforme a lei municipal n° 10.200 determina: assado na labareda do fogo a lenha e servido no espeto, a peça (tamanho GGG), alimenta facilmente três pessoas, incluindo no corte parte da alcatra, da picanha, do mignon e da maminha.

Este é o Paraná D.O.C., agora enriquecido com a “Mãe Ca Filha” da Ilha dos Valadares. Depois da Cataia de Guaraqueçaba, a legítima cachaça dos três estalos de tambarutaca da Mandicuera.