Para quem os gansos grasnam

O almoço na churrascaria do Erwin tem atrativos próprios: o filé, a maionese e a fila de espera. Em Curitiba os velhos conhecidos costumam se encontrar nos velórios e na varanda do Erwin.

À mesa, como convém aos domingos, os curitibanos da cepa são generosos. Porém, para não fugir à regra, desconfiados. Especialmente com os espetos corridos chiques, introduzidos pelos fariseus, onde misturam sushi com quibe cru, picanha com salmão.

Curitibano de mesa antiga prefere churrascarias ortodoxas, velhas casas a servir carnes de tempero único. Do carneiro ao terneiro. Assim como o Erwin, a Churrascaria do Darci está lá no Bom Retiro para resguardar os bons princípios de tal ortodoxia. Linguiça dos Bizinelli, filé de alcatra, salada de cebola, pepino azedo e a maionese que é um mistério de tão boa.

Como é de praxe, curitibano faz fila até para pular poça d´água. Portanto, a fila do Erwin é uma das tradições mais sagradas da cidade. Domingo passado, justo uma semana para o dia da Lei Seca, marcamos no relógio cinquenta e sete minutos na varanda da Mateus Leme. Entre umas e outras avançadas no pepino azedo, na cadeira ao lado estava o nosso velho conhecido Stacho, um dos raros falantes do Bar do Popadiuk. 

– Quem será o próximo prefeito, Stacho?

– Difícil ficar sabendo. Lá no Bigorrilho só quem se manifesta são os gansos do Lasota.

– Como assim?

– Não sabendo que cachorro de polaco é o ganso?

– Claro, mas o que os gansos do Lasota têm a ver com a eleição pra prefeito?

– Ganso só grasna em defesa do dono da casa.

– Então pra quem os gansos estão grasnando, Stacho?

– É o que se pergunta lá no Bar do Popadiuk. Dessa vez os gansos do Lasota estão bem quietinhos!