Sabe a diferença entre o Brasil e os Estados Unidos, no que se refere ao cumprimento da lei? Lá, as leis não admitem tolerância alguma: “Ou pode, ou não pode!”. Aqui, quase tudo é possível: “Pode-e-não-pode!”. Ou seja, nós temos o jeitinho brasileiro para driblar a lei.

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A comparação entre a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros, em relação às leis, está no livro “O Que Faz o Brasil, Brasil?”, do antropólogo Roberto DaMatta. Explica que “a atitude formalista e respeitadora dos gringos causa admiração e espanto nos brasileiros, acostumados a violar e a ver violadas as próprias instituições”. No entanto, afirma ainda DaMatta “é ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada. Pode-se creditar à pouca-vergonha do brasileiro”.

Desavergonhados e generosos. Somos assistencialistas, com um jeitinho bem brasileiro não deixamos ninguém na rua da amargura. Para quem quer transar, fornecemos camisinha. Se já transou, doamos a pílula do dia seguinte. Se engravidar, patrocinamos aborto. Se já teve o filho, temos a Bolsa Família. Se está desempregado, temos Bolsa Desemprego. Se quer prestar vestibular, contamos com uma bolsa apropriada. Se não tem terra, apelamos para a Bolsa Invasão e ainda aposentamos.

Acreditamos no jeitinho brasileiro: ainda seremos capazes de lançar um Vale-Táxi para amparar aqueles carentes que não podem voltar para casa com um motorista. Vai funcionar assim: o camarada bebe um barril de chope no boteco e chama um táxi. Apresenta uma carteirinha de carente, assina uma guia e o taxista será reembolsado no fim do mês pelo Ministério da Saúde.

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Para explicar o jeitinho brasileiro e as raízes da nossa “pouca-vergonha”, o antropólogo Roberto DaMatta diz mais: “Diante de uma autoridade, utilizará termos emocionais. Tentará descobrir alguma coisa que possuam em comum, um conhecido, uma cidade da qual gostam, a terrinha natal onde passaram a infância. Apelará para um discurso emocional, com a certeza de que a autoridade, sendo exercida por um brasileiro, poderá muito bem se sentir tocada por esse discurso. E muitas vezes conseguirá o que precisa”.

Graças a Deus, que de tão generoso é brasileiro, este não é um país para se levar tudo muito a sério.

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