“Depois dos 70 anos”, escreveu o cineasta espanhol Luiz Buñuel em sua autobiografia, “não detestei a velhice. Encontrava nela até mesmo certo contentamento”. Falecido em 1983, o amigo de Picasso confessava que naquela idade não tinha vontade de nada, “nem de uma casa à beira-mar, nem de Rolls-Royce, nem sobretudo de obras de arte. Penso, renegando os clamores de minha mocidade: abaixo o amor desenfreado! Viva a amizade!”.

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“De uns anos para cá – dizia o surrealista em seu canto do cisne – sempre que deixo um lugar que eu conheço bem, onde vivi e trabalhei, que fez parte de mim, como Paris, Madri, Toledo, El Paular, San José Purúa, dedico um instante a me despedir desse lugar. Dirijo-me a ele e digo, por exemplo: `Adeus, São José! Aqui conheci momentos felizes. Sem ti minha vida teria sido muito diferente. Agora, vou embora, não te verei mais, continuarás sem mim, digo adeus´. Digo adeus a tudo, às montanhas, à fonte, às árvores e às rãs. Claro, às vezes volto a um lugar do qual já me despedi. Mas não ligo. Quando parto, me despeço pela segunda vez”.

Há quem concorde em termos com a alma cigana de Luiz Buñuel, o cidadão do mundo. Para não dizer adeus, definitivamente, um grupo de voluntários da FAS na Unidade de Atendimento ao Idoso Ouvidor Pardinho acaba de enviar uma carta ao prefeito Maurício Fruet solicitando a permanência do grupo naquele local, onde prestam serviço voluntário.

Os voluntários se dizem surpresos com a possível extinção da Unidade de Atendimento ao Idoso Ouvidor Pardinho: “A reforma do prédio que abriga a Unidade é mais do que necessária, porém, acabar com o que se conquistou é retrocesso, desumano e antidemocrático. Isso porque o idoso através de tantas lutas, de tantos descasos, violências sofridas em sua longa existência, merece ter uma velhice saudável e reconquistar sua dignidade, ou seja, seu merecido lugar onde possa ter voz, paz, respeito, justiça, acolhimento e amor”.

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Ao serem notificados que suas atividades serão feitas provisoriamente em outros lugares, os voluntários da Praça Ouvidor Pardinho fazem um apelo também a Márcia Fruet, presidente da FAS, para não retirarem definitivamente aquelas pessoas idosas de seu segundo lar, de seu refúgio, onde podem desabafar, fortalecer-se, instruir-se e, principalmente, cultivar novos e velhos amigos.

 Viva a amizade!

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