Para dizer adeus

A revista “Seleções do Reader’s Digest” tem uma seção chamada “Meu Tipo Inesquecível”, com biografias condensadas sobre personalidades que marcaram pessoas, cidades e países. Depois modernizada e sem graça, a “Seleções” deixou de ser a revista do médico e do dentista, agora substituídas pelas revistas “Caras” e “Veja”.

Quem ainda tem daquelas casas de praia dos anos 1950 ou 60, tem também uma grande possibilidade de encontrar a coleção completa das “Seleções do Reader’s Digest”, a leitura preferida nas temporadas de veraneio. Em algum canto do quartinho onde se entulham guarda-sóis, cadeiras de praia, raquetes de frescobol, bolas murchas e engradados de cerveja, é bem possível encontrar um grupinho de traças rolando de rir com as “Piadas de Caserna”, anedotas de salão que hoje podem ser contadas até no salão paroquial.

Infelizmente, não conheço o felizardo que tenha a coleção completa das “Seleções do Reader’s Digest”. Temos alguns exemplares para matar a saudade das temporadas de verão, quando a leitura de praia se resumia ao tríduo Jorge Amado, Pato Donald e a “Seleções do Reader’sDigest”, que tinha seções assim: “Enriqueça seu vocabulário”; o “Livro do Mês”, na forma de um best seller condensado; e o “Meu tipo inesquecível”.

Seja na escola primária, na universidade, no trabalho, no clube, no culto a celebridades ou na vida política, todos nós temos um tipo inesquecível. Alguns desses tipos são indeléveis em nossa memória, até nos influenciam vida afora. Outros são fugazes, como a maioria, passageiros como as chuvas de verão.

A belíssima “Chuvas de verão”, aliás, é uma canção de Fernando Lobo bem ilustrativa: “Podemos ser amigos simplesmente / Coisas do amor nunca mais / Amores do passado, no presente / Repetem velhos temas tão banais / Ressentimentos passam com o vento / São coisas de momento / São chuvas de verão”.

O reverso do “Meu tipo inesquecível” é o “Meu tipo para esquecer”. Fugazes, são aqueles personagens que marcam um breve período das nossas vidas. Coisas do momento, são chuvas de verão.

Tipo inesquecível era o mestre Millôr Fernandes, o que nos dizia: “Sim, do ano velho nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus”.