(Diário de Roma)

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Mesmo para que não é marinheiro de primeira viagem, se acomoda no fundo da mala do viajante o temor de que o inesperado nos faça uma surpresa. Esta é nossa quarta estadia em Roma, uma delas para a canonização de Santa Paulina em 2002. Portanto, não seria por falta de aviso que eu iria passear de madrugada na via Due Ponti ou na Via Apia, duas das zonas muito frequentadas por “veados”, denominação já dicionarizada pelos italianos. Apesar de a Cidade Eterna ser uma área protegida por Todos os Santos, assim como a Bahia, o inesperado pode nos fazer a surpresa. Pela profusão, uma estátua de São Gabriel (o padroeiro dos acidentados) pode despencar sobre nossa cabeça e todo cuidado é pouco com o trânsito romano, onde o Capeta é diretor de planejamento: com ele, o inesperado vem da esquerda, da direita, de frente e de trás, além do intenso tráfego entre o Inferno e o Paraíso.

Com o propósito de passar trinta dias bem-aventurados em Roma, tomamos algumas medidas de segurança. A primeira foi prenotar uma visita guiada às escavações sob o túmulo de São Pedro, na Basílica de São Pedro. Mais que uma visita cultural, é uma peregrinação a um dos lugares mais sacros da cristandade. É preciso reservar horário com bastante antecedência para um grupo de no máximo doze pessoas, é proibido fotografar e o roteiro, na companhia de dois guias, não dura mais do que uma hora e meia. Ainda de salvaguarda, por obra e graça do padre Parron, de Curitiba, vamos buscar dois convites para assistir no Sábado de Aleluia a Solene Vigília Pascal (a mãe de todas as vigílias) celebrada pelo papa.

Dizia o filósofo romano Sêneca: “Ao fim de uma viagem sobre liteira, fico tão exausto quanto teria ficado se tivesse ido a pé. É difícil ser carregado por bastante tempo, talvez porque não seja natural: a natureza nos deu nossos próprios pés para que pudéssemos andar sobre eles… Nosso estilo de vida decadente nos condenou à fraqueza: já somos incapazes de fazer o que por muito tempo evitamos fazer”.

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Mora na filosofia? Da liteira aos aviões de carreira, pouca coisa mudou: chegamos ao aeroporto de Fiumicino tão exaustos quanto se tivéssemos viajado a pé. Partimos no sábado e, na noite de domingo, fomos recuperar nossas forças com vinho e pizza. Tal e qual Curitiba. A diferença é que a Pizzeria da Baffetto, na Via del Governo Vecchio, merece um capítulo à parte.

Até amanhã, com a proteção de São Gabriel.

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