Papo de praia

Primeiro dia do ano num ponto qualquer do litoral do sul do Brasil, num melancólico bota-fora de 2013, estreando 2014 – o Ano do Cavalo: de acordo com o calendário chinês, em 31 de janeiro de 2014 terá início o Ano do Cavalo. Trabalho, força e determinação. Se assim for, é o que ainda temos de melhor.

 A praia lotada como sempre acontece na primeira semana de janeiro, com a paisagem lembrando os cartões postais do Rio de Janeiro, tendo como corpo estranho um pequeno bando de pálidos paraguaios pulando a terceira onda do mar.

Não fosse a sorte de um Curitibano que ganhou uma fatia da Mega da Virada, a conversa seria a mesma de sempre. Conversa esta sob um guarda sol cheirando a mofo, entre um paulista, um gaúcho, um catarina, um paranaense. Os quatro olhando o mar batido, salpicado pela garoa fina. Depois de horas de silêncio, retomam o tema da hora. Dizia o paranaense:

– Se eu tivesse ganho a Mega da Virada, compraria várias fazendas de soja no Paraná, outras várias no Mato Grosso e faria mais um shopping no Batel. E ainda emprestaria algum dinheiro para a secretaria Jozélia Nogueira pagar as contas atrasadas do governo do Paraná. De quebra ainda compraria o passe do Paulo Baier para ele fazer o Paraná Clube voltar para a Primeira Divisão.

Silêncio total, só quebrado pelo chiado esparso da chuva e o vaivém das ondas. O catarina, depois de longo tempo, fala:

– Pois eu compraria vários apartamentos de cobertura em Floripa, mais o Costão do Santinho, parte do Jurerê Internacional e ainda a maior construtora de Balneário Camboriú.   

O gaúcho, que até então bebia quieto seu chimarrão, também botou a colher:

– Pois eu, tchê… compraria o jornal Zero Hora e dois times decentes pro Grêmio e Internacional. Chega de passar vergonha na cara, tchê!

O paulista, depois de um gole na caipirinha, completou:

– Desistam. Nada disso eu vendo!

E os três continuaram calados, enquanto o sol cozia o vendedor de milho, pamonha e coco, oriundo do Norte do Paraná para refazer a vida no litoral.