Papai Noel nas garras da lei

A inacreditável notícia de que o coral do Palácio Avenida está sendo investigado e pode ser desmontado pelo Ministério Público do Trabalho por suspeita de exploração de menores lembra uma pergunta que há muito tempo se vem fazendo: 

– Se fosse realizada depois da Constituição de 1988, quando o Ministério Público ganhou a estrela de xerife, a revolução urbana de Curitiba teria saído do papel?

Depois que o arquiteto Jaime Lerner foi nomeado prefeito, em março de 1971, sua equipe trabalhava com uma faca no pescoço e a ordem de serviço na mão: é agora ou nunca, porque amanhã pode ser o último dia.

O fechamento da Rua XV foi emblemático, de hoje para amanhã. A pressa era tanta por um só motivo: assim como foi nomeado prefeito num dia, no outro Jaime Lerner podia ser demitido. Sem maiores explicações, conforme os humores da ditadura. Eterno chefe de gabinete de Jaime Lerner, o advogado e jornalista Nireu Teixeira dizia que a equipe atuava como se todo dia fosse uma decisão de campeonato. Dormiam com uma ideia na cabeça e acordavam no dia seguinte com um capacete de obras sobre a mesma cabeça, porque aquele poderia ser o último dia.

E assim os sonhos iam se realizando. A pressa é inimiga da perfeição, mas em Curitiba foi a nossa salvação.

Em plena ditadura, num ambiente político onde as liberdades de opinião eram sufocadas, os automóveis da Rua XV de Novembro cederam espaço aos pedestres. Décadas depois, com a democracia restaurada e o lobby político atuante, será que os comerciantes e alguns outros contrários conseguiriam embargar o projeto da Rua das Flores?

Para desapropriar a área em torno do Parque Barigui, a prefeitura precisou mobilizar tantos advogados quanto o número de operários que trabalharam na preservação daquele fundo de vale. Se fosse hoje, Obras fundamentais, como o Sistema Trinário, a Rua das Flores e o Parque Barigui seriam embargadas, contestadas e ainda estariam mofando nos escaninho da Justiça. 

A interdição da Pedreira Paulo Leminski sustenta estes argumentos. E agora a exploração de menores no Palácio Avenida nos leva a crer que o Papai Noel vai terminar o ano na cadeia.