Papa com sotaque leitE quentE

Se Deus é brasileiro, nenhum outro país tem mais chance de ganhar um papa. Só não tivemos ainda um papa – assim como o Nobel e o Oscar –por pura inveja: afinal, qual é o país abençoado por Deus e bonito por natureza?

Talvez o único opróbrio a nos prejudicar seja o pecado do nepotismo. Se Deus é brasileiro, presume-se que Ele há de ter algum parente próximo a nos obstruir a graça do Divino Espírito Santo. Se de Deus não há primo longínquo registrado em cartório, com a mais absoluta certeza podemos provar que quase todos os papas têm algum parente no Brasil. No sul do Brasil, principalmente.

Se o papa for de origem italiana, basta perguntar no bairro da Água Verde, em Curitiba, por exemplo. Ou o parente do papa é vizinho do prefeito Gustavo Fruet, ou os descendentes da família chegaram ao Brasil no mesmo navio dos Trombini ou Malucelli. E assim vai, em qualquer boteco do Brasil Meridional sempre é possível encontrar um primo do papa picando fumo e tomando uma grapa.

O mesmo acontece com o papa alemão, muito provavelmente com alguns parentes trabalhando nas tecelagens de Brusque e Blumenau. Assim como João Paulo II tinha uma parentagem gaúcha na cidade de Ponte Preta. Descendentes dos Wojtyla que deixaram a Polônia em 1914 e chegaram de navio a Porto Alegre, de onde foram para Erechim.

Se Deus é grande, justo e bom, mesmo que por vias transversas, por que Ele não poderia nos conceder um papa com sotaque leitE quentE?

Dos mais cotados para representar nossa cores em Roma, Odilo Scherer (63) nasceu no Rio Grande do Sul mas foi criado em Toledo (PR). Arcebispo de São Paulo, fez sua vida escolar-eclesiástica em Curitiba, onde estudou no Seminário Menor São José e fez Filosofia na PUC-PR.

Outro possível papa com sotaque leitE quentE pode ser João Braz de Aviz (62), prefeito da Congregação do Clero e dos Institutos de Vida Consagrada do Vaticano. Catarina de Mafra, esse filho de açougueiros se criou no Paraná, entre Borrazópolis e Apucarana. Como Scherer, fez seus estudos superiores em Curitiba, cursando Filosofia no Seminário Rainha dos Apóstolos. 

Além desses nossos velhos conhecidos, outros três cardeais brasileiros são candidatíssimos: Dom Cláudio Hummes, Dom Geraldo Majella Agnello e Dom Raymundo Damasceno Assis. Caso os cinco forem reprovados no conclave, podemos oferecer ao Colégio dos Cardeais o nome do curitibano com mais vocação ao trono de São Pedro: Rafael Greca de Macedo.

Se não foi eleito prefeito de Curitiba, pelo menos leva jeito para camerlengo do Vaticano.