Na noite de quarta-feira o Teatro do Paiol abriu os braços para saudar e aplaudir o cantor e compositor Toquinho, um dos seus mais ilustres padrinhos de batismo. O mais celebrado, é claro, foi Vinícius de Moraes, o padrinho que batizou o teatro com uísque.

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Se não foi o melhor presente que a cidade ganhou, foi o mais divertido e amoroso, pois na mesma noite a Fundação Cultural de Curitiba regalou a memória da cidade com o som restaurado da inauguração do Paiol, com Vinícius abençoando aquele “Paiol de pólvora” e, ao mesmo tempo, aspergindo o uísque que, segundo o poetinha, “não faz mal para ninguém, pra mim é remédio”.

Símbolo da Fundação Cultural de Curitiba, o Teatro do Paiol é muito mais: é um dos ícones da moderna Curitiba. É o ponto de partida das transformações culturais e da reciclagem da cidade. No plano urbanístico, o Teatro do Paiol foi o símbolo do porvir. Junto com a Rua das Flores, foram as duas provas concretas de que a cidade estava para virar muito rapidamente algumas páginas de sua história.

A ideia de reciclar um antigo paiol de pólvora partiu do diretor de teatro Oraci Gemba, do arquiteto e cenógrafo Ronaldo Murilo Leão Rego e da atriz Yara Sarmento. Apresentada à prefeitura, a proposta só encontrou apoio em uma única pessoa: Jaime Lerner, então presidente do recém-criado Ippuc. Nomeado prefeito de Curitiba em 15 de março de 1971, no dia 27 de dezembro de 1971 Vinícius de Moraes inaugurou o Teatro do Paiol.

Quem não conseguiu ingresso reclamou, outros brigaram por não poder entrar, ver e ouvir ao vivo o “Poetinha” que trouxe na bagagem Toquinho, Marília Medalha e o Trio Mocotó e exigiu para a empreitada duas caixas de uísque, que a sede era tanta, e uma “banheirinha cor-de-rosa” no hotel, para namorar.

Fazer nascer um teatro em nove meses foi mais fácil do que trazer Vinícius a Curitiba. Numa semana de Natal, e com o teatro sendo feito a toque de caixa e bimbalhar de sinos, parecia impossível tirar o poeta das noites de Itapoá, na Bahia. Apesar do adiantado da hora, conseguiram instalar a rara banheirinha cor-de-rosa no hotel e o carnaval que Vinícius de Moraes aprontou, vou te contar!

“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” e batizou aquele palco circular com uma unção escocesa de 12 anos, numa alquimia diminutiva, a gosto do poeta: “Copinho longo, com gelinho até a borda e uisquinho até fazer boiar os cubinhos”.

Toquinho é o paiol de histórias de Vinícius de Morais. Uma, do tempo em que o poetinha era diplomata de carreira, é de um casal de brasileiros que ficou quase uma semana atrás de Vinícius na Embaixada do Brasil em Montevidéu. O porteiro português, apiedado, encerrou as buscas com o seu legítimo falar lusitano.

– Pois, pois, o senhor Vinícius de Morais pela manhã não trabalha e à tarde … não vem!    

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DIÁRIO DE ROMA – Em Roma como os romanos, durante 30 dias, a partir de segunda-feira passarei a expedir diariamente um pequeno texto ou pequenas notas (com foto) relatando o dia-a-dia (ou “dolce vita”, como preferir) naquela babilônia de Marcello Mastroianni.

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