Otários e burundangos

Curitiba é a capital do teste. Aqui experimentam tudo de novo: a nova pomada para calvície, o mais recente livro de auto-ajuda, o novo político velho, a novíssima atriz de novela, o inédito conto do vigário, enfim, nessa cidade testam até a nossa paciência. Agora estão testando uma droga criminosa e letal: a “burundanga”.

Para o mercado publicitário, a regra é clara: “Yo no creo en brujas! Pero, se Curitiba aprovar, que las hay las hay!” A mais recente prospecção de mercado agora vem pela internet, com uma história de arrepiar os cabelos de qualquer otário. E vem com um título encomendado: “Aconteceu em Curitiba!”

E segue o dramático caso: “Vale a pena estar atento. No último sábado procurava um telefone público e encontrei apenas um, em frente ao estacionamento Soriana (Praça da Espanha). Estacionei alguns metros mais atrás e desci do carro. Quando estava falando chegou um homem sem uma perna e com muletas. Me perguntou se podia ajudar a anotar um número, e me deu o cartão com o número e um papel para anotar o telefone. Peguei o papel e comecei a marcar o número. Então em poucos segundos comecei a me sentir mal. Quase desmaiando, corri para o carro e me fechei, ainda me sentindo enjoado. Tonto, tentei ligar o carro e afastei-me do local, estacionando mais à frente. Depois, não lembro de mais nada. Mais tarde despertei com a cabeça como se estivesse estourando, e fui imediatamente para o hospital. Após os exames de sangue, confirmou-se o que suspeitava. Era a droga que está na moda: a “burundanga” ou “escopolamina”.

E continua o filme de terror:

“Você teve sorte, me disse o médico. Não foi intoxicação, apenas uma reação à droga. Não quero nem imaginar o teria acontecido se os teus dedos tivessem absorvido toda a droga ou ficassem em contato com ela por mais 30 segundos. Com uma dose mais forte, uma pessoa pode ficar até oito dias desligada do mundo.”

Para dar verossimilhança ao caso, neste ponto entra o testemunhal do doutor:

“O médico do hospital (Dr. Raul Quesada) comentou que já são vários os casos como este e me falou dos mortos encontrados sem órgãos, encontraram-se restos dessa droga nos dedos deles. Em Curitiba estão traficando órgãos com esta droga! Tenham cuidado e enviem a todos os familiares, amigos, vizinhos! Podem acabar salvando uma vida!”

Essa tal de “burundanga” é o seguinte! Dois pontos:

“A escopolamina é a droga mais usada pelos criminosos. Em dois minutos ela faz parar a atividade do cérebro e com isso os criminosos agem à vontade, fazendo da vítima o que querem: roubos, abusos, estupros etc. E o pior: ela não se lembrará de nada!”

Otários, acautelem-se com estranhos sem uma perna e de muletas:

“Pode ser utilizada em doces, papéis, num livro ou ainda em um pano que, uma vez aberto, deixa escapar a droga em forma de gás. Cuidado com pessoas que vêm falar conosco como se nos conhecessem! Reenvie este alerta para todos os seus contatos.”

O apelo funciona, pois recebi dúzias deles. E de amigos acima de qualquer suspeita, crentes que existe estacionamento Soriana na Praça Espanha. Burundanga ou escopolamina, que diabo é esse? Perguntei e o Google respondeu:

“É mais uma lenda com os componentes de praxe: um pouco de verdade, muitos dados imprecisos e um monte de inverdades. A mesma mensagem, com pequenas mudanças, como o nome da cidade de Curitiba, circula em países africanos de língua portuguesa. Versão em castelhano cita um centro comercial na cidade de Caracas, Venezuela.”

Caracas! Curitiba, virou laboratório da “escopolamina”. Acham que esta é a “cidade dos burundangos! Ou de otários.