Ostras e outras épocas

Em Cabaraquara, nos doces confins de Guaratuba, algumas famílias sobrevivem com o cultivo de ostras e podem virar referência gastronômica do litoral. Cabaraquara é uma prima pobre de Santo Antônio de Lisboa, em Floripa, onde as ostras ganharam cinco estrelas e a companhia dos mais caros champanhes. Primeiro cronista do Paraná, em 1850 o parnanguara Antônio Vieira dos Santos descreveu com orgulho a baía onde nasceu, para avivar à brava gente de Cabaraquara de “quão” generoso já foi o nosso mar.

“Dos Peixes mariscos e crustáceos que povoão o reino de Neptuno, dentro das Bahias, Lagôas e Rios de Paranaguá” (Assim é o título trecho deste capítulo de Antônio Vieira dos Santos, abaixo reproduzido com livre atualização ortográfica). 

“Desde a mais remota antiguidade, sempre foram as baías de Paranaguá abundantes de pescados de todas as classes, pois que em muitas ocasiões foram levados socorros deste gênero à praça de Santos, Rio de Janeiro, Bahia e Colônia de Sacramento (Uruguai). (…) Parece que Netuno, esse Deus marítimo, junto à bela Dóris e as lindas ninfas Naiades e Nereidas, de propósito escolheram suas habitações nessas formosas baías, povoando-as com imensos peixes de diferentes formas e delicados sabores, que só o insigne Cuvier poderia classificar. Os lugares mais piscosos das baías são em derredor das Ilhas das Peças, das Cobras, Cotinga, Rasa Grande e Pequena, Jurerê, Guararema e Teixeira, em diferentes canais das baías, em lugares especiais de suas margens, onde turbilhões de peixes entrando do grande oceano pela barra adentro se encontrarão naqueles lugares. Principalmente na barra do Sul, entre os meses de maio até agosto. São ocasiões em que entram do Sul milhares de tainhas em corrida. É então o tempo mais divertido, para quem quiser ver o modo e a maneira como os pescadores dão os seus lances de rede em que apanham dois, três, até doze mil peixes. (…) Grande é a bondade divina, mostrando aos homens a imensidade de sua grandeza. (…) As baías de Paranaguá são abundantíssimas de muitos mariscos que serviram de principal alimento aos primeiros índios carijó, como ainda hoje se vê das grandes ostreiras e sambaquis de cascas de ostras e berbigões que eles fizeram. Substancioso alimento, temos ainda grandes ameijoas, os berbigões, bacucus, sururus, ou mexilhões, os camarões e finalmente os caranguejos: desde dezembro até março eles são tão numerosos que, nas fases da Lua, cobrem as praias e facilmente milhares deles são colhidos com as mãos, depois carregados em cestos e canoas cheias. É por tudo isso admirável a grandeza Daquele Onipotente que tudo criou”.