Os santinhos da Petrobrás

Quem nasceu antes? O ovo ou a galinha? No Brasil essa questão está superada. A pergunta que se faz agora nem mesmo o juiz Sérgio Moro sabe responder: quando começou a corrupção no Brasil?

Começou com os tucanos! – respondem os petistas, crentes de que um crime justifica o outro e os demais serão perdoados em nome da causa partidária.

Começou com o Mensalão! – respondem os tucanos, arrependidos de não terem pedido o impeachment no momento justo, quando até as traças sabiam que uma organização criminosa estava se armando dentro do Palácio.

Agora que o principal problema em Brasília é achar alguém que aceite presidir a Comissão de Ética dos deputados – afinal, quem seria assim desatinado para julgar as dezenas de colegas que devem ir para a guilhotina depois do Carnaval -, correm nos corredores do Congresso histórias de como a Polícia Federal teria chegado aos tubarões da Petrobrás.

Por conta do folclore político, conta-se que o doleiro Alberto Youssef teria combinado com o falecido deputado José Janene uma estratégia para distribuir entre aliados os recursos não contabilizados da Petrobrás:

– Vamos fazer o câmbio baseado em santinhos: mil reais, mil santinhos. Quando o companheiro precisar, digamos, de 10 mil reais para pagar os cabos eleitorais, basta telefonar pedindo dez mil santinhos, com a segurança de não levantar nenhuma suspeita.

 

A estratégia deu certo. Ligava o assessor do candidato de São Paulo:

– Estou precisando de 30 mil santinhos!

– Pois não! Por favor, precisamos do seu endereço. O pacote será remetido hoje.

Com todos os beneficiados já cadastrados, a artimanha deu certo. A Polícia Federal, mesmo na escuta telefônica da central de distribuição de propinas da Petrobrás, não tinha como saber que o câmbio estava calçado na farta distribuição de santinhos.

A casa caiu – ou caiu a organização criminosa – quando um deputado de Minas Gerais teria ligado para o falecido José Janene, o distribuidor-mor da República.

– De quanto o nobre deputado está precisando para sustentar a campanha?

– Tô necessitado de 200 mil santinhos!

– Não é muito coisa, deputado?

– Uai, a minha base eleitoral é assim mesmo, grande demais da conta!

– Sinto muito, mas a gráfica não tem condições de entregar tudo isso no momento. Pra amanhã, só podemos entregar até 50 mil santinhos.

– Então manda tudo o que puder, sô!

– Vamos remeter 50 mil santinhos num pacote. Por favor, o seu endereço aí em Minas Gerais?

– Não precisa endereço, uai! Pode depositar tudo na minha conta corrente.

E o mineirinho começou a cantar os números da conta corrente, em vão: Janene desligou o telefone no ato. 

Ainda por conta do folclore político, conta-se que o ministro da base aliada se encontrou com o deputado derrotado no velório de José Janene. Com os dois lado a lado do caixão, o ex-deputado cobrou do ministro:

– Lembra que o senhor me prometeu 300 mil santinhos?

– A remessa de santinhos foi despachada!

– Só que não recebemos!

– Desculpe, deputado: 300 mil santinhos é muita coisa. Não fica perdido na transportadora!

– Ministro, por qual empresa os santinhos foram enviados?

Depois de um olhar para os lados, conferindo se não estava sendo filmado ou fotografado, o ministro apontou o dedo indicador para o defunto. Os dois se benzeram e a conversa terminou aí.