O Animador de Velórios dos Campos Gerais tem uma vida lúdica. Lúdico por natureza, faz da ludicidade profissão. Um velório aqui, outro guardamento acolá, empresta assim seu nato ludismo às almas acabrunhadas. Por isso o Jaguara ficou honrado em saber que o governador Roberto Requião se confessou também um lúdico.

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A justificativa está na primeira linha na nota oficial emitida pelo governo: “O tom lúdico que usei no lançamento da campanha de prevenção do câncer de mama, entre mulheres e homens, acabou provocando uma onda de recriminações”.

“Nós os lúdicos somos uns incompreendidos”, lamenta o Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais. “Já aconteceu comigo: certa feita, lá em São João do Triunfo, falei de corda na casa de um enforcado. Só não levei um chapoletaço de ripa porque, macaco velho, emendei com um caso catarina: em Pomerode, onde tem o maior índice de suicídios da face da terra, a prefeitura baixou uma lei proibindo a compra de corda sem receita médica. E, mesmo assim, cordame com mais de dois metros só com ordem do juiz.”

Criar uma atmosfera lúdica em todas as ocasiões fúnebres em que se apresenta é regra de ofício do Animador de Velórios. Tal qual o Jaguara, o governador Roberto Requião sempre intenta o mesmo objetivo. Mas nem sempre encanta a plateia, infelizmente. Jaguara tem explicação para os tantos e seguidos desastres de comunicação: “O Roberto se esforça, mas lhe falta o talento de Maurício Fruet, de quem foi discípulo.”

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– Você foi amigo do grande deputado e ex-prefeito de Curitiba?

– Muito. Aprendi a receita do “carneiro afrodisíaco” com ele; e sempre que posso venho a Curitiba só para ajudar o Guga Fruet na lida dos borreguinhos eróticos. Certa ocasião, quando prefeito de Curitiba, Maurício Fruet me mandou buscar nos Campos Gerais para assar um carneiro afrodisíaco. Na mesa das autoridades, Fruet sentou-se ao lado do arcebispo metropolitano, dom Pedro Fedalto. Bom garfo, Maurício se fartou. No final da comilança, o arcebispo arriscou um comentário sutil: “Maurício, para que santo vocês rezam para fazer a digestão?” O prefeito passou o guardanapo no bigodão, colocou o copo sobre a mesa e respondeu: “São Risal, eminência!”

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– Qual a diferença entre o Maurício Fruet e Requião?

– Estilo! O Requião é xucro. O Fruet elegante, tinha o “timing”, o ritmo necessário. Falta ao Requião um redator de humor em seu gabinete. Um talento semelhante ao do escritor Ishmael Levy, contratado por Ronald Reagan só para inserir humor em seus discursos. Na Casa Branca, Ishmael Levy escreveu pérolas como esta: “O governo não é a solução para o problema. O governo é o problema!” A cada frase engraçada, a imagem de Reagan se fortalecia. Mas a economia precisava crescer. Um dia, por acaso, Levy disse a Reagan: “Presidente, você realmente odeia impostos. Por que você não proíbe os ricos de pagá-los?” Levy quis ser engraçado, mas Reagan levou aquilo a sério. Requião tem a percepção que o humor é importante para lhe fortalecer a imagem. No entanto, mesmo esforçado, é um péssimo piadista.

– Jaime Lerner também costuma tirar partido do bom humor, com bons resultados, apesar de sofrível orador.

– O humor judaico é o mais refinado do mundo. Ishmael Levy é a prova disso, e foi Woody Allen quem disse: “Não é que eu tenha medo de morrer. Apenas não quero estar vivo quando isso acontecer.” É por essas e outras que não aceito animar velório na sinagoga.