Nas entrevistas acerca do livro a ser lançado amanhã no Paço da Liberdade – “Maria Batalhão – Memórias Póstumas de uma Cafetina” –, se existe uma expressão que procuro não usar é a tal de “mulheres de vida fácil”. Mais justo seria dizer “homens de vida fácil”, especialmente em vésperas de eleições, quando o clima eleitoral nos corredores do poder se torna desesperador e eles são obrigados a sair à luz do dia em busca de seu voto.

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Se o eleitor encontrar com um deles na esquina batendo bolsinha e ofertando favores, não confunda “homens de vida fácil” com “mulheres de vida fácil”. Parece uma prostituta, mas não é. As prostitutas costumam ter mais dignidade e as artimanhas da profissão já têm até regras divulgadas pelo Ministério do Trabalho. Na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), o eleitor pode encontrar o item 5.198, onde constam algumas recomendações para as profissionais do sexo, desde a abordagem ao cliente até a sua plena satisfação.

No Brasil, a prostituição não é considerada crime, de acordo com o capítulo 5 do Código Penal (artigos 227 a 231). Assim como as atividades dos “homens de vida fácil” são regulamentadas pelo código de costumes das atividades legislativas, a sociedade trata as prostitutas dentro do estatuto do faz de conta. Embora parecidos, as prostitutas não merecem ser comparadas moralmente a um legislador (o que legisla a dor) de vida fácil, que arrota de satisfação com o sangue da nação. As prostitutas merecem justo respeito e não devemos confundi-las com aquelas bem-apanhadas autoridades que, junto com discretos ternos de grife, vestem despudoradas calcinhas, usam e abusam da melhor maquilagem e do mais caro perfume, tudo para encobrir o corpo da besta humana.

Não parece, mas é fácil reconhecer um “homem de vida fácil” à luz do dia: encanta com o seu olhar sedutor e um leve sorriso. Quando se apresenta, sempre com as mãos exalando fina lavanda, faz um verdadeiro striptease de suas boas intenções políticas. Mas não se deixe enredar, conheça a cartilha dos “homens de vida fácil”, a mesma das prostitutas: batalhar programa; acompanhar clientes; administrar orçamentos;demonstrar capacidade de persuasão; muita paciência; talento para realizar fantasias eróticas; saber ouvir e respeitar o silêncio do cliente; sigilo profissional; respeitar o código de não cortejar companheiros de colegas de trabalho; proporcionar prazer, sensualidade e, muito importante, cuidar da higiene pessoal com lenços umedecidos; papel higiênico; preservativo masculino e feminino; e bastante gel lubrificante, porque é disso que a classe política está precisando.

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