Os furibundos (2)

Graças aos impostos que não deixavam nem mesmo um fabricante de papel higiênico fazer suas necessidades em paz, o francês Henri Derrier, fabricante de “banana em pó”, tornou-se mais um brasileiro enfurecido. E daí o nome do seu primeiro filho: Furibundo. Sendo que os netos foram batizados de Meditabundo, Nauseabundo, Moribundo e Vagabundo. 

Dr. Furibundo Derrier, casado com dona Pureza, é economista. O doutor não veio de nenhum doutorado na França, é fruto da graduação social que faz qualquer proeminência brasileira ser chamada de “Doutor”. Dos quatro filhos de Furibundo e Pureza, apenas o engenheiro e administrador de empresa Nauseabundo trabalha com o pai. Meditabundo, o primogênito, é advogado. Moribundo, coitado, é professor. E Vagabundo é arquiteto sem nunca ter exercido. É multimídia, o caçula Vagabundo: desenhista, pintor, poeta, escritor, ator, músico e compositor, ele é pessoa física dependente da Lei Rouanet e outros mecenatos públicos. Com tal currículo, Vagabundo até já incursionou pelo jornalismo, mas pediu demissão depois de passar um mês cobrindo os bastidores da política.

– É de vomitar!  – exclamou Nauseabundo, ao ler uma reportagem escrita pelo irmão Vagabundo, uma página inteira com o histórico de nepotismo no poder.

– Vomitar por quê? Escrevo tão mal assim? – perguntou o desolado Vagabundo.

– Nem tanto… mas lidar com papel higiênico não é uma profissão tão asquerosa!

Sem nenhum preconceito com a imprensa, sempre que Nauseabundo abre um jornal ou uma revista ele tem esse tipo de reação. Já na primeira página, o comentário é pontual: “Isso está me cheirando mal!”.

– O país está definitivamente podre!  – bradou certa vez Nauseabundo, antes de começar a vomitar o almoço de negócios que ainda estava em digestão. E caiu estatelado no tapete. O irmão Moribundo veio acudir, dona Pureza correu na cozinha para fazer um chá de camomila e, rápido, Dr. Furibundo passou a mão no jornal para descobrir a causa de tamanho estrago intestinal.

– É a capa da Veja! – acalmou a todos o patriarca.

– Será o caso de levar o Nauseabundo pra um hospital? – interveio o Moribundo.

O enojado não foi para o hospital, graças ao chá de camomila de dona Pureza, santo remédio com receita da Lapa. Assim que Nauseabundo se botou de pé, Dr. Furibundo ordenou:

– Filho, passa lá na fábrica e manda urgente uma tonelada de papel higiênico para o Congresso Nacional. E de graça! 

– De graça? 

– De graça! Alguém nesse país precisa atender as primeiras necessidades dos políticos. Como dizia o Barão de Itararé, no Brasil a vida pública é a continuação da privada!

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