Os donos do bom paladar

Em meados do século passado, quando a rua mais moderna de Curitiba era a Barão do Rio Branco, o forasteiro contava nos dedos de uma só mão um bom restaurante de almoço. Dois deles se encontravam na movimentada rua, a poucas quadras da Estação Ferroviária: o elegante restaurante do Hotel Jonscher e, entre a Marechal Deodoro e a Rua XV de Novembro, o Restaurante Rio Branco.

Como se aprende no álbum “História dos Bares e Restaurantes de Curitiba” (já nas Livrarias Curitiba), o Restaurante Rio Branco funcionou por mais de cinco décadas no número 44 da antiga Rua da Liberdade. Começou com o nome de Leiteria Rio Branco e virou restaurante quatro anos depois, ao ganhar dois personagens que marcaram época na cidade: os garçons Plácido e Juscelino (na foto, sentado), cujo nome na carteira de trabalho era Benedito. O apelido de Juscelino veio de sua permanente pose de político.

Abria no almoço e jantar, sempre com o mesmo cardápio. Segunda: virado à paulista, frango com nhoque ou vitela à brasileira. Terça: dobradinha ou posta com purê. Quarta: feijoada, língua com purê ou galinha com polenta. Quinta: rabada ou mocotó. Sexta: bacalhau à portuguesa, vatapá ou bife à rolê. Sábado: feijoada. Domingo: leitão à brasileira, frango caipira recheado, peixe ao molho de camarão ou espaguete com frango.

Frequentado basicamente por homens que trabalhavam no centro de Curitiba, sendo que as mulheres eram atrações à parte no almoço de domingo, a figurinha carimbada do Restaurante do Rio Branco se chamava Avelino Vieira, o fundador do Banco Bamerindus. O prato preferido do banqueiro era o filé à Moraes – alho e óleo com agrião. Com sua simplicidade, “seo” Avelino normalmente chegava sozinho e todos faziam de conta desconhecer o homem mais rico do Paraná.

Com o advento do espeto corrido e a invasão da comida por quilo, além da “praga do sanduba”, o movimento do Restaurante Rio Branco começou a cair. Avelino Vieira encerrou a conta aqui embaixo, o Banco Bamerindus e as Lojas Hermes Macedo fecharam as portas definitivamente e, tendo em vista o grande bazar em se transformou o centro da cidade, em 1995 os garçons Plácido e Juscelino também pediram a saideira.

Curitiba tem vários donos. Assim como Dino Chiumento será o dono eterno do Bar Stuart, Mosart, Izaltino e Adriano eram os donos do Bar Palácio; Isaac Lazzarotto era o dono do Vagão do Armistício; Ernesto Zancheta era em 1913 o dono do Restaurante do Grande Hotel Moderno; Walter Lusting era dono do Bar Paraná; Amatuzzi o dono do Bar Mignon; Rudi Blum era o dono do Bar Triângulo; Ivo Pschra era o dono do Rei das Batidas; Hans Egon Breyer era o dono do Restaurante Nino; Germano Kundy era o dono da Churrascaria Cruzeiro; João de Pasquale era o dono do Passeio Público; Ervin Ofner era o dono da Churrascaria Ervin; João Hermínio Simas era o dono do Costelão do Catarina; Leopoldo Mehl era o dono da Confeitaria Iguaçu; Victor Schiochet, o dono do Bar do Vítor; Giovanni Muffone o dono da Baviera; Émile Décock o dono do Ile de France; Erminia Calicetti a dona do Bologna; e Flora Madalosso a dona do maior restaurante do mundo; não resta a menor dúvida que Plácido e Juscelino eram os donos virtuais do insubstituível Restaurante Rio Branco.