Muitos frequentadores da Boca Maldita estão mais aflitos que refugiados de guerra. Eram dois os cafés na Avenida Luiz Xavier, a menos avenida do mundo: o Café Avenida, ao lado das Livrarias Curitiba, e atravessando o calçadão, bem em frente, o Café Qualitá. Agora só restou um.

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Localizada no ponto nevrálgico da cidade, a Boca Maldita é também olhos e ouvidos da capital do Paraná. E ainda o fígado a regular os humores da opinião pública. No tempo da ditadura, quando a livre expressão foi reprimida pelos próprios generais que tomavam cafezinho local, só na Boca Maldita o murmúrio era permitido. Era maldita na acepção da palavra, venenosa, imperdoável, galhofeira, bem humorada, curiosa e, sobretudo, bem informada.

Sempre tão informada, mesmo assim a Boca Maldita não foi capaz de prever com bastante antecedência o distúrbio que iria causar o fechamento do Café Qualitá, cujo prédio será restaurado para receber a sede administrativa do Grupo Positivo, proprietário do imóvel.

Se já existia um certo cisma entre os aficionados dos dois cafés – de um lado os gregos, do outro os troianos e no meio uma faixa de Gaza para os pedestres -, agora a expectativa é quanto à convivência pacífica de confrarias antagônicas no único balcão do apertado corredor do Café Avenida. Com o clima já um tanto tenso entre os grupos, em função das colocações inversas de Atlético e Coritiba na tabela do campeonato, a situação tende a se agravar com a proximidade das eleições.

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Uma boa parte daqueles desterrados da Boca Maldita pediu asilo na café da Boca do Brilho, na divisa com a Praça Osório. Outra parte ficou ao relento, vez ou outra se abrigando na marquise das Livrarias Curitiba para tentar ouvir as fofocas do Café Avenida.

Certamente os desamparados da Boca Maldita vão ganhar algum teto, pois quem sabe o Grupo Positivo – além de enriquecer a Rua das Flores com uma bela restauração do prédio – também inclua no projeto um café à altura da lendária Boca Maldita.        

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