Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, não aceitou se associar a uma nova funerária de Brasília. Pelos cálculos do investidor, seria um negócio milionário, de tantos políticos que já morreram e não sabem.

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Única no mundo, a funerária vai se especializar na produção de festejos para velórios. Nas devidas proporções, serão velórios no velho e bom estilo do Jaguara aqui nos Campos Gerais. A única diferença é que em Brasília os amigos enlutados são capazes de requisitar um avião da FAB para lançar as cinzas do saudoso em Nova York, com a presença de amigos, assessores e parentes.

Almas sensíveis podem se sentir chocadas com a novidade, mas nos altos escalões da República não são poucos os festeiros dispostos a não perder nenhuma chance de gastar o dinheiro público em comemorações, mesmo com o pé na cova.

A princípio, para não sair dos Campos Gerias, o Jaguara vai assessorar à distância o empreendimento, participando com seu notório saber funerário somente de guardamentos especiais. Nessas ocasiões, irá declamar o poema do argentino Mario Benedetti, feito em 1963.

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Os canalhas vivem muito, mas às vezes morrem, escreveu Benedetti:

‘Vamos a festejarlo / Vengan todos / Los inocentes / los damnificados / los que gritan de noche / los que sueñan de día / los que sufren el cuerpo / los que alojan fantasmas / los que pisan descalzos / los que blasfeman y arden / los pobres congelados / los que quieren a alguien / los que nunca se olvidan / Vamos a festejarlo / Vengan todos / el canalla se ha muerto / se acabó el alma negra / El ladrón / El cochino / se acabó para siempre / hurra que vengan todos /  Vamos a festejarlo / a no decir / La muerte / Siempre lo borra todo / Todo lo purifica / Cualquier día / La muerte no borra nada / Quedan siempre las cicatrices / Hurra / murió el cretino / Vamos a festejarlo / a no llorar de vicio / que lloren sus iguales / y se traguen sus lágrimas / se acabó el monstruo prócer / se acabó para siempre / Vamos a festejarlo / a no ponernos tíbios / a no creer que éste es un muerto cualquiera / Vamos a festejarlo / a no volvernos flojos / a no olvidar que éste / es un muerto de mierda.

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