Os Campos Gerais de Portugal

Um pedaço de aqueduto do século 16 é a marca maior de Évora, uma das belas cidades da região portuguesa do Alentejo – para além do Tejo, o rio que nasce na Espanha e banha Lisboa. Em Évora, entre as paredes de pedra do aqueduto que levava água para a praça do Giraldo, está o M´Ar de Ar, um hotel de luxo cujo estranho nome tenta definir a região: “O Alentejo é um mar de planícies, mas o m’ar que aqui se respira e nos hipnotiza é um m’ar de céu, um m’ar de estrelas, um m’ar de Ar!”.

Por essas planícies xistosas (ricas de granito e mármore), parecidas com os Campos Gerais do Paraná, plantam-se uvas e cereais e nesta primavera há flores como papoulas, línguas-de-vaca, margaridinhas silvestres e alfazemas. Em vez de araucárias, oliveiras para as azeitonas e os azeites de primeira qualidade. Em vez da bracatinga, os sobreiros para produzir cortiça, embora a árvore demore 30 anos para gerar a matéria-prima das rolhas e, depois da primeira “colheita”, mais nove para voltar a formar, no caule, a casca grossa da cortiça.

Na rota do vinho do Alentejo, o castelo de Monsaraz domina os muros da antiga fortaleza, entregue no século 12 à guarda dos Templários – cruzados encarregados de guardar o Santo Graal. Ainda há sinais de sua passagem pelas fachadas das casas, brancas com detalhes em azul e amarelo e com pátios internos, além de antiquíssimas chaminés. Permanecem praticamente intactas a antiga Casa da Inquisição e o Pátio da Guarnição – onde, apesar de ser proibido, todo ano tem tourada com morte do touro e distribuição da carne à assistência.

Estremoz, outro castelo, nasceu no topo de uma colina, entre olivais. Na fortaleza está a Torre das Três Coroas, com 27 metros de mármore apontando para o céu. Bem antes da expansão do vinho, o mármore foi o “ouro branco” do Alentejo. Ainda se extrai bastante, mas a morte do principal comprador causou um grande baque nos negócios: era ninguém menos que Saddam Hussein.

Amanhã, os vinhos do Alentejo.