Passando em revista esta modorrenta eleição para a prefeitura de Curitiba, percebe-se que alguns ilustres eleitores estiveram ausentes: os ex-prefeitos. Se fossem chamados ao debate, os eleitores poderiam ter analisado os candidatos do presente com as lições daqueles que vivenciaram os problemas e as soluções do passado.

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Se estivessem mais presentes nos espaços dos jornais, rádios e televisões dedicados à eleição, e não fossem tratados como pautas reservadas aos obituários, os ex-prefeitos teriam acrescentado, pelo menos, suas práticas às teorias dos noviços. Três dias depois de encerradas as urnas, o site Documento Reservado bem registrou a ausência dos notáveis: “Não apareceram na campanha eleitoral deste ano para a prefeitura de Curitiba todos os ilustres ex-prefeitos da capital ainda vivos e cheios de saúde. Jaime Lerner não estava nem aí. Rafael Greca, idem, talvez contrariado pela preterição em favor do ex-reitor Moreira. Saul Raiz não deu as caras, assim como Ivo Arzua Pereira. Quanto a Cassio Taniguchi, não obstante ainda tenha domicílio eleitoral em Curitiba, ter sido eleito deputado federal pelo Paraná, mudou-se para Brasília, onde é secretário de Estado da capital federal”.

Pelo que se viu na campanha, faltou ousadia não só aos candidatos. Os meios de comunicação também se mostraram conservadores, no que a eles compete. Engessadas pela legislação eleitoral, e mesmo sabendo que os formatos dos debates são ótimos soníferos, as televisões, principalmente, não procuraram alternativas criativas. Por exemplo: um simpósio entre os ex-prefeitos de Curitiba. Ao vivo e em cores, um simpósio como está no dicionário: “reunião de cientistas, técnicos, especialistas, escritores e artistas para discutir determinado (s) tema (s)”. Não um debate, um bate-boca, tendo como cenário as desavenças particulares e divergências partidárias.

Compreende-se que os principais canais privados são regidos por uma grade de programação ditada de longe, restando ao cotidiano local algumas esmolas. É inadmissível, no entanto, que a emissora pública (TV Educativa) não possa cumprir esse papel, abrindo seus estúdios para um mínimo de inteligência. Com generosidade, sem o azedume atual.

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Para se ter uma idéia do que perdemos, a revista eletrônica Terra Magazine (terramagazine.terra.com.br) acaba de publicar uma entrevista com o ex-prefeito Jaime Lerner. No texto de abertura, um tema de nosso interesse e que, agora no segundo turno, será de utilidade para paulistas e cariocas: “O urbanista quebra uma das certezas dos debates eleitorais: o futuro das grandes cidades brasileiras não está no metrô. Em vez de procurar respiros no subsolo, Lerner propõe a redescoberta da superfície, a integração dos sistemas de transporte”.

Adiante, três frases do nosso ex-prefeito que poderíamos ter escutado ao vivo, concordando ou discordando delas.

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“O metrô não acontece de uma hora pra outra. Há 50 anos que se discute em Nova York a Second Avenue line, o metrô da Segunda Avenida. Cinqüenta anos! Agora, estão começando. Vai levar mais uns 20 anos para fazer. São 70 anos pra fazer uma linha que vai custar US$ 4 bilhões. E essa linha não vai transportar mais passageiros do que o ônibus biarticulado que passa em frente ao meu escritório, em Curitiba.”

“Além dos problemas normais que todas as cidades têm – de educação a saúde, atenção às crianças, segurança, saneamento -, existem hoje três pontos que são fundamentais, não só para cada cidade, mas para a humanidade. São problemas essenciais para essas cidades e a responsabilidade perante o futuro: a mobilidade, a sustentabilidade e a coexistência, a sociodiversidade.”

 “O que falta aos prefeitos brasileiros? Não falta. Falta fazer, começar. Inovar é começar. Existe uma visão de as pessoas quererem todas as respostas, aí vão adiando as decisões. Nós não podemos ser tão prepotentes de querer todas as respostas antes. Planejar uma cidade é uma trajetória. O importante é começar. E dar espaço pra que a população lhe corrija se não estiver no caminho certo.”