Onde você estava?

No dia 1.º de abril de alguns anos atrás, perguntei a alguns amigos: Onde você estava no dia no dia 1.º de abril de 1964? A data acaba de ser retirada do calendário de efemérides do Exército brasileiro e não se pode menosprezar a decisão do governo de deletar as comemorações do golpe militar de 31 de março de 1964, data da deposição de Jango Goulart.

Aqui, não é o caso de refrescar a memória dos anos de chumbo, mas o agora presidente da TV e Rádio Educativa (agora E Paraná) respondeu assim a minha indagação: “No dia 1.º de abril de 1964, com 17 anos, estava cursando o segundo ano clássico no Colégio Nossa Senhora Medianeira. Foi logo na primeira aula que fiquei sabendo do golpe militar, então chamado de Revolução, que derrubou o Jango e criou um novo feriado no calendário escolar. Fiz o melhor que podia naquela circunstância: fui namorar. No ano seguinte, misteriosamente, esse feriado foi antecipado para 31 de março”.

Carlos Fernando Mazza, o Mazzinha, estava na sede do CPC (Centro Popular de Cultura), na Rua General Carneiro com Marechal Deodoro, próximo à Reitoria, “na expectativa de uma reação pela legalidade”, lembra o irmão do Mazza.

Marco Dolabela, chef do Bar dos Passarinhos lembrou que estava em Campinas: “Com 16 anos, eu estava no ponto de ônibus lendo o jornal Última Hora. Lembro que perguntei para todo mundo ouvir: Que merda é essa?”

Naquele dia, Ernani Buchmann chegou ao Colégio Estadual do Paraná e o inspetor Portela não deixou ninguém entrar: ” Não vai ter aula porque está acontecendo uma revolução militar!”. Bem feliz, a turma do Ernani foi jogar sinuca na Rua Riachuelo.

O depoimento de Hélio Teixeira, jornalista: “Dia 1.º de abril, eu deixei minha casa na Rua Brasílio Itiberê, 3040, perto da Baixada, e, como sempre fazia, fui a pé rumo ao Colégio Bom Jesus. Cursava a quarta série do primário e me preparava para fazer o “exame de admissão” ao ginásio. Quando cheguei na Rua Alferes Poli com a Praça Rui Barbosa, o ambiente estava tomado por soldados e blindados do Exército. As pessoas andavam rápido e eu mais ainda. Na entrada do colégio, o frei Gervásio avisou que não haveria aula. Achei ótimo e fui bater bola no campo do 5 de Maio (hoje praça do Atlético). Dezoito dias antes (13/3) eu vi meu pai escutar num rádio RCA Victor o discurso do Jango na Central do Brasil e seu comentário: ‘Vai dar confusão’. Deu.”

Ainda faltam dez dias para os inconformados saudosistas rememorarem o golpe militar de 1964, mas (uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa) aqui fica a pergunta para ser respondida sabe Deus quando:

– Onde você estava na noite de sábado, quando Barack Obama chegou ao Rio de Janeiro?

Os atleticanos nunca mais vão esquecer o momento: com a cabeça inchada, tinham acabado de sair da Baixada.