Não são poucas as lendas pouco conhecidas dos curitibanos. Uma delas é a do Buraco da Velha. Primavera ou verão, quando a temperatura aumenta e os ossos pressentem uma tempestade no ar, a gente antiga de Curitiba levanta os olhos para o céu do Parque Barigüi, na direção de Campo Largo, rumo de Ponta Grossa. Naquela nesga de hemisfério se localiza o que os antigos chamam de Buraco da Velha. Se as nuvens daquele canto escurecem, é tempestade da grossa. O Buraco da Velha inunda os bairros, vilas se enchem de lama e a prefeitura declara calamidade pública.

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Outra lenda desconhecida surgiu há muitos e muitos anos, no tempo do Mateus Leme, quando vivia, num cafundó chamado Santa Cândida, um casal com uma única filha, já bem grandinha. O homem da casa era um honrado colono italiano de poucas posses. Para sustentar a família tinha uma porca de criação, mansa e boa amamentadeira dos leitõezinhos que paria duas vezes por ano.  O belo animal era muito estimado por ser muito pachorrento e também porque, com a venda dos leitões, a família fazia dinheiro para pagar a dívida mensal do armazém no Largo da Ordem, além de outros pequenos acertos de conta com os vizinhos de Santa Cândida.

Logo de manhã, a primeira coisa que o colono fazia era vistoriar a porquinha, coçar a bichinha, dar umas palmadas no lombo em sinal de carinho. Por vezes levava uma tigela de milho em grão. Aconteceu certo dia que, ao aproximar-se da pocilga, não viu a porca lá dentro. Correu a avisar a mulher e começaram a se lamentar. O burburinho foi grande e logo apareceram alguns vizinhos, que se juntaram na procura pelo animal desaparecido. Correram as barrocas dos arredores. Bateram palmo a palmo aqueles campos da Santa Cândida, mas nada encontraram. Foram depois para mais longe e a filha do casal, vendo os pais aflitos, também se pôs na busca. Tanto que ela gostava dos três porquinhos que a porca levou consigo.

Lembrou-se então a menina de procurar num buraco afastado, onde os meninos costumavam brincar de enterrar tesouros de pirata. E qual não foi o seu espanto, ao encontrar no fundo da cratera a porca rodeada pelos três porquinhos. Quando a porca olhou para cima e viu o sorriso da menina, numa manifestação de júbilo começou a torcer o rabinho. Radiante de felicidade, a garota começou a gritar:

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– Encontrei a porca com os três porquinhos! Corram aqui, ela está torcendo o rabinho!

Trouxeram a porca e os três porquinhos para casa e tudo voltou à normalidade. Mas a frase pronunciada ingenuamente pela menina nunca mais foi esquecida em Santa Cândida. É por isso que ainda hoje, quando os mais antigos passam pela rua Professora Sandália Monzon, 210 – onde hoje é a sede da Polícia Federal -, eles dizem ironicamente:

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– É aqui que a porca torce o rabo!