Oktoberfest que não temos

Se inveja mata, enterrem nossos corações na antiga fábrica da cerveja Original, em Ponta Grossa. Assistindo de longe à fuzarca nas festas de outubro em Santa Catarina, é de se perguntar: ‘O que será que Blumenau tem que Curitiba não tem?‘.

A resposta está no destino que deram aos imigrantes alemães que chegaram ao Brasil. Reunidos em agremiações fechadas para preservar a cultura e as tradições germânicas, fundaram no Brasil Meridional algumas das cidades mais desenvolvidas do Brasil, mas nenhuma delas tão festiva quanto Blumenau. Se a origem, a língua e a cultura são as mesmas, por que só em Blumenau a Oktoberfest germinou em terra fértil?

Existe uma explicação pouco conhecida para a vocação festiva de Blumenau. E, por extensão, a razão pela qual Curitiba não é afeita aos costumes de Munique.

O culpado seria o chefe do serviço de imigração, um português que separava os imigrantes conforme a profissão e os bons costumes. Quando os imigrantes desembarcavam no Porto de São Francisco do Sul, o portuga carimbava o destino:

– Profissão? – Engenheiro!

– Pode escolher: Joinville, Rio Negro ou Curitiba?

O burocrata carimbava o documento e chamava o próximo:

– Profissão? – Músico! – Vai pra Blumenau! E vinha outro: – Profissão?

– Professor de matemática!

Pode escolher: Joinville, Rio Negro ou Curitiba?

O seguinte: – Profissão? – Cervejeiro! – Vai pra Blumenau!

Esse era o critério do portuga: ferreiros, pedreiros, mecânicos, marceneiros, engenheiros, alfaiates, costureiras ou qualquer outra profissão mais ‘respeitável‘, tinham como opção Joinville, Rio Negro ou Curitiba.

O resto, o rebotalho, todos eram recolhidos para Blumenau: gaiteiros, garçons, maestros, atrizes, poetas, jornalistas, dançarinas, malandros e as damas de vida airosa também.

As únicas duas profissões com a opção de assinalar qualquer dos destinos, por uma questão de sobrevivência da colônia, eram os padeiros, confeiteiros e cozinheiros. Consta, porém, que a maioria deles preferiu acompanhar os alegres companheiros destinados ao Vale do Itajaí.

Se Richard Wagner, o maestro e compositor, tivesse emigrado para o Brasil, seria destinado a Blumenau. Ferdinand Porsche, o inventor do Fusca, seguiria para Curitiba.