Obsolescências programadas

Dizem os especialistas em desuso que os consumidores da era moderna são programados para a “obsolescência programada”. É quando os profissionais de marketing introduzem deliberadamente a obsolescência em sua estratégia de produto, com o objetivo de gerar um volume de vendas sucessivo e duradouro (aquela maldita geladeira que está lá em casa!); já a “obsolescência percebida” é uma forma de reduzir a vida útil dos produtos que ainda são perfeitamente funcionais e úteis.

Com essas estratégias, os fabricantes lançam produtos com aparência inovadora e mais agradável, dando aos produtos antigos o aspecto de ultrapassados. Dessa forma, induzem a gurizada trocar a camisa 10 quando o time troca de goleador.

No caso do guarda-chuva, por exemplo, há muitos e muitos invernos já não se fazem mais galochas, muito menos sombrinhas daquelas feitas para durar cem anos, da bisavó para a neta. O que temos hoje são guarda-chuvas híbridos, de “obsolescência programada e percebida”. Ou seja: quando os vendedores ambulantes “percebem” que vem chuva, nos vendem em caráter de urgência guarda-chuvas “programados” para durar apenas aquele aguaceiro. Nem mais, nem menos. Dia desses, por exemplo, o jornalista Luiz Geraldo Mazza estava saindo da Boca Maldita rumo ao domicílio, na Avenida Paraná, quando o céu desabou. Em desabalada carreira, comprou por dez reais um guarda-chuva do primeiro ambulante que lhe apareceu na frente e, uma quadra depois, o tal produto de “obsolescência programada” desmilinguiu-se na mão do grande jornalista.

Como o curitibano é apaixonado por galocha, meia branca e guarda-chuva, dou de graça para o prefeito Gustavo Fruet o projeto “Guarda-Chuva-Público”. Seria uma forma de socorrer pedestres como o Mazza, dos que não sabem e jamais pretendem dirigir um carro e que volta e meia vêem-se na contingência de comprar dos vendedores oportunistas (por “dez real”) uma dessas “obsolescências programadas”.

Com o sistema “Guarda-Chuva Público” em cada quadra, especialmente no centro da cidade onde a demanda é maior, assim que do céu chovesse canivete o cidadão apanharia um guarda-chuva sob a marquise mais próxima e o devolveria logo adiante, numa chuva de verão, ou na semana seguinte, caso a garoa perdurasse por muito tempo. Com a cor laranja dos nossos táxis – afinal, um guarda-chuva é de certa forma um táxi -, o “Guarda-Chuva-Público” não correria o risco de roubo, como costuma acontecer com os cofres públicos: seria quase o mesmo que o larápio guardar um táxi roubado na entrada de casa.

“De difícil viabilização!” – dirá um burocrata. “Seria factível?” – pode perguntar o candidato a vereador. De certa forma, se alguma companhia telefônica concordasse em patrocinar o projeto. Afinal, com milhares de “guarda-chuva públicos” circulando pela cidade, não teria veículo mais apropriado para vender a idéia de “melhor cobertura”.

Além do guarda-chuva, temos um bom número de “obsolescências programadas”: geladeiras, automóveis, computadores, celulares, bares, restaurantes, charutarias, blogues, revistas e até jornalistas, levando-se em conta que os próprios professores de jornalismo ensinam que a morte dos jornais é apenas uma questão de ser decretado o “Controle Social da Mídia”.

Dos descartáveis, não podemos deixar de citar o ministro da Fazenda Guido Mantega, jogado no lixo pela “presidenta” que já pode ser considerada uma “obsolescência programada e percebida”, caso não lave suas mãos sujas de petróleo.