Para a memória paranaense, os historiadores terão uma pauta muito divertida para pesquisar, quando chegar o momento de analisar a vertente e interpretar aspectos subconscientes no humor do governador Roberto Requião. A tarefa, que a princípio seria para um psiquiatra, merece desde já o registro de alguns casos que podem facilitar um estudo futuro.

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Quem já sentiu a “veia venenosa” de Roberto Requião, desde os tempos em que pintou um cavalo de cor-de-rosa no quartel, reconhece em seus melhores momentos (se é que existem melhores momentos) alguma influência do humor atrevido de Maurício Fruet. Nessa origem, diga-se, se destaca muito mais o aspecto cruel do que a elegância de espírito dos fluidos irreverentes do pai de Gustavo Fruet. Mesmo na política, Roberto Requião tinha Maurício Fruet como espelho. Porém, sempre quando tenta refletir a verve de Fruet através suas próprias ironias, revela-se um desastrado comediante. Entre um e outro, digamos, existia a diferença entre o esgrimista que empunha o florete e este que ataca com a borduna.

São Tomás de Aquino pregava que “o humor é necessário para a vida”. Considerava, entretanto, que o humor pode ser um vício por excesso, ou seja, por falta de comedimento. Aquele que exagera torna-se inoportuno, por querer fazer rir constantemente, de qualquer forma. O trêfego humorista não mede palavras e gestos, torna-se agressivo e desagradável a todos, principalmente para com a vítima a quem a “brincadeira” é dirigida.

Se existe um argumento bondoso em favor da brutalidade de espírito de Roberto Requião, é que ele até se esforça para fazer da ironia uma forma de se exibir simpático, informal e, principalmente, com inteligência bem acima da média. Pena que os resultados são estes que conhecemos. Com um repertório mórbido e recorrente, por ser uma autoridade tem o “privilégio” de tecer comentários sobre a cor da gravata dos presentes ao velório de enforcado. Mesmo assim, já aconteceu de falar o que quer e ouvir o que não quer.

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Esta semana, o governador foi à Assembleia para a abertura do ano legislativo. Cercado de jornalistas e assessores, se dirigiu ao fotógrafo Orlando Kissner e disse que ele se parecia com o retrato-falado do assassino e estuprador de Caiobá. Kissner encarou Roberto Requião e devolveu:

– Vai tomar no (###)!

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Surpreso, o governador acusou o fotógrafo de “grosso” e insistiu na triste comparação. Orlando, que nunca voltou com desaforos para a redação dos jornais e revistas onde trabalhou, retrucou de voz firme:

-Sua mãe é que é parecida!

Requião engoliu a mamona do fotógrafo e seguiu adiante, escoltado pelo silêncio constrangedor das muitas testemunhas.

Outro episódio constrangedor aconteceu no ano passado em Santa Catarina, durante um jantar no Palácio da Agronômica, oferecido a Roberto Requião pelo governador Luiz Henrique da Silveira. A história me foi contada agora em janeiro por um dos presentes, secretário de Estado de Santa Catarina.

Quando todos sentaram à mesa para o jantar, o convidado de honra tomou a garrafa de vinho da mão do garçom, sacou dos óculos e começou a analisar as características do tinto. Em seguida, afastou a garrafa bruscamente e, dirigindo-se ao anfitrião, perguntou se não tinha um vinho melhor para ser servido. Diante do silêncio dos convivas, Roberto Requião se levantou e perguntou onde era a adega, para onde se dirigiu diante dos estupefatos circunstantes. Minutos depois voltou o convidado com outra garrafa na mão, com os presentes ainda em silêncio e os garçons de queixo caído. O homenageado serviu-se do outro vinho e contou uma piada qualquer acerca dos “péssimos” tintos produzidos em Santa Catarina.

Terminado o jantar, o governador do Paraná voltou ao vinho que lhe estava atravessado na garganta e ofereceu a todos um cálice de seu veneno mais amargo:

– Quando vocês forem jantar no Palácio Iguaçu, em vez de um vinho igual a esse eu prefiro servir água!