O verão da fossa

O Brasil abriu o verão de 2009 ouvindo Maysa. Na televisão ou nas páginas econômicas dos jornais, era só o que se escutava, e os ecos da crise ainda ressoam: “Meu mundo caiu!”. Assim sendo, nem mesmo a poderosa Michelle Obama, apesar de muito bem cotada, chegou perto do título: Maysa é a Musa do Verão.

Num país tropical, bonito por natureza e bordado de praias mil, o título de Musa do Verão para Maysa Matarazzo não podia ser mais justo. Especialmente nos dias atuais, quando o quesito “fossa” é o de maior peso na orla outrora ensolarada. Tanto no Paraná quanto em Santa Catarina, a “fossa” abunda. Em ambos os estados, reconhecem as autoridades incompetentes, são apenas três os locais próprios para banho, com severas restrições: a bacia, o chuveiro e a piscina do hotel, e o resto é bosta.

Na “fossa” também ficaram os turistas, que pela primeira vez sentiram os efeitos do “desaquecimento” global. Mesmo com sol, as lojas praieiras tiveram que botar à venda o estoque encalhado de edredon do inverno passado.

A balança comercial do verão (diferença entre o total de exportações e de importações de turistas, medida em carros nas rodovias pedagiadas) registrou neste janeiro o primeiro superávit do Paraná, depois de muitos e muitos anos de saldo negativo perante Santa Catarina. Foi a “fossa Catarina”, dizem os especialistas, causada pela tragédia das águas de novembro. Entre o guarda-sol e o guarda-chuva, paranaenses e paulistas preferiram não arriscar suas combalidas economias que ainda restaram das ações da Petrobras e resolveram pegar um bronze no quintal de casa. Paulistanos pegaram as curvas da estrada de Santos e as curitibanas chiques foram molhar suas pérolas de família nas águas de Guaratuba, Caiobá e Matinhos.

A diáspora paranaense em direção ao seu próprio mar territorial deixou na “fossa”, de modo especial, os veranistas de Porto Belo (SC). Mais preocupado com os cardumes políticos de Caiobá, o prefeito Beto Richa deixou a ver navios a enseada da Caixa d’Aço, onde sempre foi um navegante dos mais festejados. A República de Porto Belo (como é tratada pelo jornalista Fábio Campana) este ano ficou às moscas, e aos mosquitos também. Até o surfista (político) Rafael Iatauro não foi visto no pedaço dividindo um balaio de ostras com Ratinho, o rei da Costa Esmeralda.

Nem mesmo Balneário Camboriú escapou da “fossa”. Além da ausência sentida do governador Roberto Requião, que neste verão não provou os vinhos da sucursal do restaurante Mangiare Felice, o balneário ficou ainda abalado com a notícia de que o tradicional Hotel Fischer será demolido em março de 2010. No lugar daquela jóia rara dos anos 50s serão erguidas torres residenciais, num investimento em torno de R$ 70 milhões.

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Para fechar o verão, como se a “fossa” não tem fim, a notícia de uma felicidade interrompida. Praia dos Amores: esse nome não merece uma memória sinistra, lhe caberia um poema de Maysa.