Segunda-feira passada (29), Dia Nacional de Combate ao Fumo, não consegui fazer ninguém parar de fumar. Em compensação, há quase dois anos estou fora do quadro associativo da Souza Cruz. Não é muito, mas considerando que cortei relações com o Joãozinho Caminhador (o vermelhinho Johnny Walker), agradeço ao cardiologista por me dizer que eu estou com a proa do meu barquinho no rumo certo.

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Quanto ao álcool, ainda não cheguei ao ponto do Ernani Buchmann, um confesso desertor. No entanto, com mestre Ernani assino embaixo quando ele nos diz que devemos tratar a bebida com todos os rapapés, mas quando ela começa a nos tratar mal, alguma atitude precisamos tomar. Com gelo ou sem gelo.

É inexorável, ainda vamos ter que desertar definitivamente dos eflúvios etílicos. Quando chegar a hora, para não admitir perda total, talvez fosse o caso de reabilitar o velho e saudável Clericô.  

Para quem não nasceu em tempo de experimentar, o Clericô garantia o faturamento das boates em meados do século passado. Era um coquetel à base de guaraná, servido em taça de champanhe. Parecido com o champanhe, o preço era o dobro. Não tinha consequências, a não ser o aumento das idas ao banheiro. Quem não conhecia o clericô jurava que as bailarinas argentinas ficariam bêbadas. Elas tomavam vinte, trinta doses por noite, enquanto os acompanhantes tomavam vinte, trinta uísques ou champanhes, compondo cifras interessantíssimas para a caixa registradora.

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 Testemunha ocular precoce dos efeitos do Clericô, o escritor e jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior conta que uma das mulheres mais rentáveis com bebida foi a argentina Laksmi. Fazia dança espanhola com castanholas e faturava uma enormidade por noite. Só ela tinha cacife suficiente para não beber Clericô. Laksmi preferia uísque e champanhe. Chegava a tomar seis champanhes em uma noite. Por isso ganhava tão bem, era lucro garantidíssimo para a casa, com o que consumia e com o que fazia a mesa consumir.

 Apesar de beber, não dava escândalos. Quando se sentia mal, aterrissava no camarim, onde dormia até seis, sete horas da manhã. E não poucas as vezes em coma alcoólica. Essa era a única encrenca que Laksmi causava à boate. Quando se retirava às pressas, o cliente acompanhante se recusava a pagar a conta. Afinal, ele estava ali por causa dela. Beber era pretexto para tê-la à mesa, bem perto dos olhos.

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Com tantas tragédias acontecendo atualmente na saída das baladas, a cada fim de semana uma chacina, proponho aos empresários da noite a adoção do velho e saudável Clericô como bebida obrigatória aos menores de idade, visto que as boates não têm lucro sem as mesadas dos meninos.