O time da sogra de Poty Lazzarotto

Na história oficial do campeão da Copa do Brasil de 2014, dois paranaenses ilustres ganharam participações especiais. No entanto, além do técnico Levir Culpi e do preparador físico Carlinhos Neves, o nosso Poty Lazzarotto também merece um parágrafo dedicado à fundação do Clube Athlético Mineiro.

Para professora Cassiana Lacerda (doutora das letras e avessa ao futebol), a biografia do Galo não está bem contada. Faltou contar que o time de Levir Culpi foi fundado pela sogra de Poty Lazzarotto. É uma questão polêmica, que não confere com a história oficial, mas o episódio está registrado no álbum “Poty, trilhos, trilhas e traços”, de Valêncio Xavier e Poty, e a própria Cassiana em várias ocasiões ouviu do nosso grande artista plástico a seguinte versão.

Dona Alice Neves, mãe de Célia Neves, mulher de Poty Lazzarotto, tinha uma pensão em Belo Horizonte, na Rua Guajajaras, ao lado dos Correios. Não era uma pensão qualquer. O café e a comida da dona Alice eram famosos. Entre seus comensais, estavam o ex-presidente Juscelino Kubitschek (então funcionário dos Correios); o escritor Pedro Nava (ainda estudante de medicina); o romancista Cyro dos Anjos (que futuramente escreveria “O Amanuense Belmiro”); e Carlos Drummond de Andrade (desde sempre poeta). Isso por volta de 1927/28, o que causa certa dúvida, pois o clube aponta 25 de março de 1908 como data de sua fundação.

Entre os pensionistas de Dona Alice Neves, havia uma turma de rapazes que jogava bola (bexigas de boi cheias de ar) no terreno baldio ao lado dos Correios e quebrava todos os vidros do edifício recém-inaugurado. Indignado, o diretor foi falar com dona Alice, que prometeu dar um jeito na situação.

Depois da missa das seis (os pupilos de dona Alice tinham que frequentar a missa todos os dias), ela reuniu os pensionistas e falou:

– Meninos, prometi ao diretor dos Correios que o jogo de bola vai acabar ao lado do nosso prédio. Vocês sabem que eu tenho o direito de “exemplá-los” que me foi dado pelos seus pais. Vamos acabar com esse bate-bola e vamos fundar um clube de futebol de verdade, igual o que já fizeram os do Sport Clube, do Viserpa.

Segundo Valêncio Xavier – seguramente com a concordância de Célia, de quem era muito amigo -, o clube a quem dona Alice “deu o ponta pé inicial” para fundar foi o Clube Athlético Mineiro (assim era escrito), de Levir Culpi e Carlinhos Neves.

Sobre a filha bonita e inteligente da dona Alice (com quem Poty casou em 1955), Valêncio Xavier conta que Poty conheceu Célia quando foi estudar em Paris, em 1946. Levou encomendas (chocolates, cigarros, café e muito provavelmente goiabada cascão) mandadas por amigos, naquela Europa do pós-guerra que ainda vivia sob o racionamento. Funcionária pública no Rio de Janeiro, depois de estudar Economia em Londres Célia foi para Paris, onde trabalhou até 1951 como Diretora de Orçamento da Unesco.

Contam os amigos que a mineirinha não queria casar com aquele curitibano nascido numa rua que hoje se chama Padre Germano Mayer, no Capanema, na época um bairro pobre de ferroviários. Talvez a causa da indecisão fosse uma certa incompatibilidade de cores: Célia torcia para alvinegro Clube Atlético Mineiro; Poty Lazzarotto pelo Clube Atlético Ferroviário, o tricolor da Vila Capanema.