O tic-tac do prefeito

Ou muito me engano, ou a prefeitura de Curitiba está assim tão mal avaliada graças a um certo receio do prefeito Gustavo Fruet, que por ser naturalmente discreto, pouco se exibe e quase não abre o bico. Pelo menos não faz uso de sua melhor ferramenta – a palavra -, como fez nesse domingo numa entrevista para a Gazeta do Povo.

Conta o jornalista Luiz Geraldo Mazza que certa vez desembarcou em Paranaguá um misterioso forasteiro. Com o rabinho entre as pernas, pulou do trem, correu para o hotel e de lá não botou os pés pra fora, só aparecendo de vez em quando com a cabeça na janela. Numa cidade onde ninguém escapa sem apelido, os parnanguaras passaram a chamar aquela ave de arribação de cuco.

Talvez o Mazza não veja assim, mas do meu ponto de vista o cuco de Curitiba devia aparecer mais, com uma visão mais à frente do seu tempo. O tic-tac da prefeitura não é aquele que se esperava, no entanto, ao abrir o bico para a Gazeta do Povo, Gustavo Fruet se justifica com argumentos da hora:

Sobre a sucessão: “Sobreviverá à eleição quem ficar à margem de escândalos. (…) Mas entendo que não há razão para antecipar esse debate, meu adversário hoje sou eu”.

Sobre grandes obras: “É a alegria do empreiteiro, né? (…) Tinha uma época em que a prefeitura cuidava de três coisas: malha viária, ônibus e zoneamento. Agora, tem que dividir [a verba] com outras áreas, principalmente a social, ambiental e econômica”.

Sobre avanços: “Se tem um dado que é motivo de orgulho para a cidade: das 15 melhores escolas do Brasil, cinco são daqui. (…) Quem está acostumado com uma cidade inovadora só por obra física está em sintonia com empreiteiros. (…) Pela primeira vez, a saúde e a educação terão mais que 55% do orçamento”.

Sobre seu futuro político, com seu habitual (e hereditário) bom humor, Gustavo diz que a prefeitura tem uma tradição de prefeitos advogados, engenheiros e arquitetos: “O próximo vai ter que ser um psiquiatra. Eu nunca apaguei tanto incêndio e nunca neguei tanta especulação”.

Sobre o Metrô, o cuco de Gustavo foi o de sempre. Só não disse que para tirar esse coelho da cartola dos empreiteiros, precisaríamos eleger um mágico para prefeito. E mágicos é que não faltam numa campanha eleitoral.